O CUMPADRE E O ESQUENTÁRIO

Isso aconteceu naquele tempo em que televisão no sertão era olhando para o céu; filhos que não tomavam benção eram excomungados... Afrodisíaco para alguns poucos mais fracos era tirado da casca de uma árvore chamada de “esquentário”. Dizia meu pai que era “tiro e queda”. Montado na garupa, a caminho da cidade, me mostrou a primeira dessas árvores que conheci. Foi até morrer de tanto que era descascada.

Dizia meu pai que teve um sitiante, com poucos recursos, comprou um jumento para cruzar com as éguas da região. Para quem não sabe, desse cruzamento nascem burros e mulas, animais mais resistentes ao trabalho. E o homem começou a se “enricar”, porque era uma novidade e cobrava em cada filhote que nascia. Andou comprando até alguns pedaços de terra à sua volta, arrumando assim mais capim para seu promissor jumento.

Só que a vida passa, o jumento foi ficando velho...

- Ficô sabeno cumpade?

- O quê home de Deus?

- O Zé do Jumento tá vendeno as terra dele.

- Caos de quê cumpade?

- Andô fazeno umas compra contano cos fio do jumento e faiô.

- Faiô cumo?

- As égua pariu cavalo memo.

- Mais cumo cumpade?

- Tão falano que o jumento num deu no coro, os dono das égua sortô eas pos pasto e os cavalo feiz o sirviço direito.

- Mais antão proque ele num vende o jumento? Quele lá é mais famoso que jogadô de bola!

- Morreu.

- O quê?

- O dito jumento morreu.

- Coitado do home. O dito morreu de morte morrida?

- Diz o Zé do Gôlo quele deu isquentário prele.

- Isquentário pro jumento?

- Isso memo. Largô ele sem sar uns dia, cuzinhô um tanto da casca cum tanto de sar e deu pro bicho bebê.

- Mais pra quê uma sacanage dessa?

- Pra vê so bicho trabaiava, sô!

- E aí?

- Diz que o véio do jumento ficô lôco cumpade. Foi pulano cerca, mata burros, atrás das égua que num quis sabê dele. Cumo as égua era mais isperta quele, paro cansadão na no currar do Zé Leitinho.

- Mais quele home só tem vaca leitera!

- Antão, foi lá que o jumento morreu.

- Morreu sem nem dá ninhuma satisfação pro chá que o dono deu prele?

- Morreu inrriba duma vaca daquela cumpade.

- Né possive...

- ...

O ser humano é mesmo complicado. Dizem as pesquisas que a maioria dos afrodisíacos vendidos no mercado são para os jovens. Usam para se auto afirmarem como se um sexo duplicado seja prova de masculinidade. Que loucura!

Não sou contra esse “incentivo” sexual, principalmente para adultos que tiveram algum problema com a próstata. Mas falta muita educação para esse tipo de medicamento. Nós, humanos machos, somos educados como se o sexo estivesse acima da vida. E não é bem assim. Deveria ter mais informação a respeito sobre esses milagrosos “remedinhos”. Eu, que vivo na zona rural, já conheço uns dez casos de pessoas que morreram ou tiveram algum tipo de derrame pelo uso excessivo desse medicamento. Mas, como a mulher ainda é objeto nas propagandas, vou tentar transformar em palavras uma piada sobre o mesmo “esquentário”...

- Esse causo do jumento tá me lembrano a morte lá do João Maludo.

- Cumé que foi essa cumpade?

- O cabra era famoso pelo tamanho do trem.

- ...

- Mais cumo a vida passa, o trem parô de subi.

- Tá inrolano cumpade.

- Antão, diz que o home foi ficano ingruvinhado inté um cumpade dele dá prele um saco da casca do tar de isquentário...

- E aí?

- Tomô logo uns dois lito do chá e chamô a muié pra deitá...

- ...

- Morreu li memo, todo duro inrriba da muié. Home grande, foi gritaria só proque ela não conseguiu sai dibaixo dele. Sorte foi que os fio iscutô e chamô os vizinho.

- Coitada.

- Na hora do enterro, caxão pequeno, poco cobre e o difunto co trem duro, a tampa num fechava. Cumé que fais? Cumé que num fais... Veio a desafeta sogra e fala pra cortá o trem, já que num tinha mais sangue memo! Coloca aonde? Ara, infia nele memo, gritava a raivosa sogra.

- Cumé que cabô a pelenga cumpade?

- Diz que antes de fechá a tampa do caxão, o sufrido difunto sortô duas lágrima...

- Caba logo quisso sô!

- A viúva toda chorosa só disse: Tá veno, num te falava quesse trem seu duía...

- ...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 19/05/2012
Código do texto: T3677204
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.