O Sr. Sabe ler?
O Senhor sabe ler?
O Milton estava muito apavorado. A doutora que ele tinha ido pediu uma série de exames, e fez um encaminhamento para um especialista em alimentação. A nutricionista que lhe indicaram era uma “fera” ia dar um jeito naquela barriga que ele tinha e naquela obesidade, conforme falara a cardiologista. Hipertensão e diabetes uma doença muito séria, teria que fazer dieta, mesmo sem ter consultado a nutricionista, já sabia, pois a médica, explicara tudo direitinho.
Chegou o dia tão indesejado. Elel levantou cedo, tomou banho, comeu com parcimônia, como se tivesse uma guilhotina prestes a cair na sua cabeça. Chegou ao consultório, sentou-se, deu o cartãozinho do plano de saúde e a identidade para a recepcionista e ficou aguardando a vez de ser atendido. Uma hora e meia se passou. Ele bebeu água duas vezes, tomou cafezinho, e desejava profundamente, beliscar alguma coisa, na falta de um biscoito, ficou mastigando os beiços, costume que tinha, sempre que esta ansioso.
Enfim, escutou a voz da “fera” gritando do fundo da caverna. Uma porta se abriu, uma senhora loura, de guarda-pó branco com o nome bordado no lado esquerdo na altura do coração, apareceu na porta e fez-lhe um gesto com a mão para que ele entrasse. Milton entrou. Não tinha coragem de olhar diretamente para a doutora. Sabia que ela iria amassa-lo como um trator, inventaria uma dieta, que o colocaria doente, pois para ele, ficar sem comer coisas saudáveis como: toucinho, linguiça, carne seca, batata frita, e também não poder tomar uma cachacinha, seria o fim de sua vida.
Ela sentou-se, ele sentou-se ainda de cabeça abaixada. Ela disparou sua metralhadora de perguntas:
- “Qual é a sua idade?” - “Quarenta e oito, vou completar quarenta e nove mês que vem”.
- “Qual é a sua profissão?” - “Sou motorista?”.
- “O senhor bebe?” – “- Claro, porque, não deveria? Se é para eu largar a cachaça, já era.”.
- “Depois vamos aos detalhes, agora quero que o senhor responda apenas ao questionário”.
- “Olha aqui dona, doutora, se era para responder ao questionário, porque não me deram essa droga de papel lá fora, assim poupava o meu tempo e o seu, a senhora não concorda comigo?”.
- “Senhor, como é mesmo o seu nome, Ah”. “Sim, Sr. Valter, fique calmo, o questionário que estou falando é oral, não precisa escrever nada não”.
- “Entendi, agora só falta à senhora perguntar, O Senhor sabe ler?”. Já sei, tenho cara de pobre, não sei falar direito, mas sei ler sim, e acho esta consulta desnecessária, estou indo embora.”
- “Calma, Sr. Valter, só preciso terminar as perguntas, o Senhor responde, por favor, para eu saber um pouco sobre a sua vida”. A doutora era tão experiente, que aos poucos, depois de alguns minutos de conversa, conseguiu mostrar para o Sr. Valter o valor da consulta e o benefício que ele ia receber se seguisse todas as instruções que ela gentilmente lhe passava.
Ao final da consulta, quando o Sr. Valter pensou já tinha amansado a “fera”, aí ela perguntou: - “O senhor sabe ler”?
Ele olhou para a doutora, e voltou a sentir-se ofendido, até que ela, explicou, precisa perguntar sem querer ofender. Nestes papéis tem a sugestão da sua dieta, e é muito importante que o senhor leia com muita atenção. Por isso, agora estou perguntando para valer. Eu atendo muitos pacientes. E nem todos entendem direito o mecanismo da dieta.
O Senhor não imagina, certa vez tive um paciente que jamais emagrecia. Depois de seis meses, e olha que ele vinha todos os meses, na data marcada etc. Descobri, após uma longa conversa com ele, que ele fazia a dieta erradamente. Ele lia “uma porção de mamão”. E aí comia um mamão inteiro, “uma porção de carne”, aí ele comia carne até passar mal, e acabou ganhando dez quilos.
Ela ainda falou mais algumas coisas, mas ele nem ouviu começou a rir, de nervoso mesmo, agora a mulher tinha ofendido ele de vez, então além dela perguntar se ele sabia ler, ela estava contando aquela história sem graça nenhuma.
A consulta acabou o Sr. Valter foi embora. Naquele consultório, ele jurou para si mesmo que jamais iria ser ofendido quando ali voltasse.
Dois meses depois, “O sr. Sabe ler? Como ficou conhecido pela nutricionista e sua secretária, voltou e para surpresa de ambas. Era outro homem. Não é que ele sabia ler mesmo. Estava mais magro, falou com a doutora como um especialista em alimentos, aprendeu a contar as calorias, a comer direitinho de acordo com as suas necessidades e instruções da doutora, estava até fazendo caminhadas. Ao final da segunda consulta a “fera”, deu-lhe parabéns, ele respondeu: “- Estudei muito para este dia, ou a senhora pensou mesmo que eu não sabia ler”?