Pingado, Gueroba e a batata salsa
Pingado e “Gueroba”
Incrível quando você pode constatar que tendo saído de sua terra natal, ou do lugar onde foi criado e ao se apresentar no novo local, vai se assustar com muita coisa.
Minas e Goiás são Estados vizinhos e de hábitos quase idênticos, mas mesmo assim com o tempo, o mineiro que muda pra Goiás vai perceber distorções nos hábitos e modo de falar que chegam a ser no mínimo incríveis e assim Paulistas, Gaúchos, Paranaenses que optam pela aventura de procurar novos horizontes e novas oportunidades para lutar pela sobrevivência.
Quando chegar ao balcão de uma lanchonete se pedir café com leite o balconista do lado de lá vai ficar esbarrado, pois o comum aqui é você pedir o “pingado”. O fedorento pequi é a especialidade da casa em muitos lares e restaurantes. Os Goianos estranhamente adoram essa fruta do cerrado enterrada no arroz, o que me deixou extremamente frustrado e chocado. Fui dizer pra um amigo que gostei da guariroba, principalmente curtida no azeite ou vinagre e ele riu na minha cara e disse que por aqui a gente diz mesmo é “Gueroba” e pronto. Afinal, Leandro e Leonardo moraram por aqui e Bruno e Marrone moram logo ali naquele condomínio fechado e aqui é a terra da musica caipira promovida a “country” ou como pronunciam alguns radialistas “cantri”.
Depois de alguns dias e tendo aprendido a andar na cidade, que nada, levei susto um atrás do outro, pois procurei as pizzarias (naquele tempo, há quase 30 anos) e não encontrava uma sequer. Toda porta aberta que eu via, era pamonharia que sobrava em toda esquina. Fiquei alarmado e perguntava pra mim mesmo: onde vou encontrar uma pizzaria, onde já deu pra ver que o milho verde reina.?
E mais sustos surgiram com a chicória que aqui é chamada de alface e a cenoura amarela é chamada batata salsa, sem falar no chã de dentro e de fora, que ficam expostos nas vitrines com o pomposo nome de colchão mole e colchão duro.
Mas ainda bem despreparado, fui caminhando pela Av. Castelo Branco e pensando que nome antipático em uma via tão bonita, logo o nome de um ditador golpista e quando olho a placa no próximo quarteirão seu nome já era Mutirão em homenagem a obras nesse estilo executada por um político que voltou do exílio, cheio de vaidades.
Coisa esquisita, uma mesma avenida homenageando dois inimigos políticos e eu pude concluir que o melhor nome mesmo da Avenida poderia ser a rua dos pingados, ou seja, um pouco de café para excitar um pouco os ânimos e um pouco de leite para abrandar a fúria dos radicais. Afinal, o mais exdruxulo mesmo por aqui são várias ruas que atravessam a região do bairro campinas e mudam de nome entre 8 a 16 vezes e não são poucas. Os estafetas dos Correios são heróis, já que por aqui os números das ruas não obedecem critérios de par ou impar e muitas vezes depois de você procurar o nr. 40, você acha o 36 e um quilometro depois é que vai achar o 40. Coisa de louco.
A estrutura dos quarteirões então praticamente não possuem lógica de engenharia, pois você procura a rua 20 e no paralelo é de se imaginar que a próxima seja a 21 e sucessivamente 22, 23, 24. Que nada, a 22 vai estar a 5 quadras de onte está a 21 e a 23 vai estar cruzando uma avenida em sentido inverso quase saindo do bairro, ou seja, so mesmo quem conhece é que vai achar aquilo que procura.
A cidade cresceu, os pequis sumiram, as pizzarias invadiram as esquinas disputando espaço com as igrejas evangélicas que estrategicamente se estabeleceram perto dos inferninhos para domar os sexualmente insasciáveis. E os largos corredores em formato via expressa, vão se alastrando pela cidade para fazer vingar os corredores de transito e os malucos invasores vão desaparecendo, já que de repente por aqui, sempre se esbarrava com uma enorme garagem de ônibus interrompendo uma larga avenida.
Estamos nos tornando uma metrópole e Roberto Carlos com certeza não diria mais que somos uma fazenda asfaltada, mas certamente precisamos de uma câmara de vereadores com coragem para legislar duro contra essa bagunça e colocar tudo em ordem.