PAPO DE VELÓRIO

Dia destes ocorreu o falecimento de um amigo e conterrâneo, que residia na cidade de Lagoa da Prata. Há vários anos, ele migrou-se atraído pelo trabalho no corte de cana da usina açucareira situada naquela bela cidade mineira. Homem honesto e trabalhador, que só após a morte retornou à sua origem, para se tornar pó em sua ultima morada se misturando a esta terra vermelha que o viu nascer. Era descendente de uma família numerosa e tradicional em nossa terra.

Geralmente nos velórios nem sempre há o devido respeito que o ambiente exige. Sempre surge algum papo que não condiz bem para o momento. Reunidos, numa comoção total, seus filhos recebiam as condolências de amigos e demais familiares. Um de seus filhos, a quem chamarei pela alcunha fictícia de Tetéu; muito falante e polêmico como sempre foi, desde criança no seu tempo de escola, cujas travessuras, por diversas vezes o pai teve que comparecer tentando amenizar as trapalhadas que o pequeno tetéu aprontava na sala de aula.

Embora não seja o objetivo, os velórios acabam motivando o encontro das pessoas que há tempos não vêem. Foi exatamente o que aconteceu com o tetéu, assim que o cumprimentei, chegou uma sua prima o abraçando; - Oi tetéu meu sentimento primo querido há quanto tempo não nos vemos -, pena, que nos encontrarmos numa situação tão triste! - Ah nada a pessoa ficô veia iguá tava meu pai mió morrê memo, nois tem tudo qui passá purisso, ieu até qui gosto dimais da conta do pai, mais num vô ficá chorano não, isso é capais até de trapaiá pra ele lá da outra banda pra onde El vai prestá as contas dele.

Querendo desfazer a conversa e mudar seu rumo ela pergunta; - e você casou de novo depois da separação? – Nada muié é bicho danado de cumpricada, dispois num priciso casá nada, tem vez qui tenho até quinze muié me quereno, pra quê arruma arguma só pra me azucriná a idéia. –Quinze? Você ta de brincadeira? – Verdade e mora tudo pertim de mim num tem briga nem nada! – Vai ser gostoso tetéu! Deste jeito você me dá água na boca primo!

O papo só foi interrompido porque chamaram para a oração final estava na hora de fechar a urna.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 14/05/2012
Reeditado em 28/08/2012
Código do texto: T3666997
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