Fantasma de Infância
Algo atormentava a minha vida de criança. Não era um bicho, não era o cachorro Leão. Era uma criatura estranha, barulhenta, sorriso grande, alerdeado, cheios de dentes compridos. Um queixo grande, empinado para frente parecendo de duende de desenho animado. Se mexia muito, e era bem desengonçado. E eu tinha muito medo dessa estranha criatura. Tanto que, quando queriam me colocar na linha, era só dizer:
- Ele vem aí ! ou
- Vou chamar ele!
Imediatamente eu corria, a fazer o que fosse preciso e principalmente, procurava um lugar e me escondia. Só saía de lá quando a tal criatura já não estivesse mais lá.
Não sei, mas o meu tio R era uma pessoa assim, na mente de criança.
Adulta vejo que, mente de criança fantasia e muito, pois do meu doce tio R meigo, alegre e expansivo, só tinha de diferente um desvio do maxililar. Aos meus olhos de criança era algo muito estranho e assutador.
Só lá pela minha adolescência pude ver o encanto de pessoa para a qual minha mente infantil criara um monstro.