RELACIONAMENTO (26 ANOS ATRAS)
Sabe sai de um relacionamento cansativo, desgastante, sem horizontes de futuro. Não sabia por que, mas, ele tinha demorado seis anos para acabar. Talvez já tivesse acabado há muito tempo e eu não tivesse percebido ou tivesse me acomodado com aquilo. Sem perceber que estava jogando o tempo fora. Não me oferecia nada, ao contrário, no dia em que aconteceu o que tinha que acontecer senti-me mal. Não por ter acabado com tudo, mas, me senti magoado como homem, nos meus princípios, no meu intimo. Sempre achei que quando um relacionamento acaba a solução não é a infidelidade, porém aconteceu... Senti vontade de sair arrebentando tudo que tinha pela frente, mas, depois vi que não valia à pena. Que eu era melhor que tudo aquilo.
Senti que tirei um grande peso das costas quando finalmente consumei a separação. Na hora nada doía. Lembro que me peguei rindo quando vinha embora, era como se tivesse acordado. Como nascendo naquele instante. Achei que estava totalmente anestesiado, talvez a dor fosse tanta que eu já não sentia mais nada. Fiz o teste: Peguei as alianças e joguei fora. Não queria nada que me unisse com aquela pessoa.
Os dias foram passando e era como se ela nunca tivesse feito parte da minha vida. Fiquei meio assustado. Achei que não conhecia meus próprios sentimentos, depois percebi que simplesmente não era a pessoa da minha vida. Sabe aquela que você sonha um dia entrando numa igreja de véu e grinalda, toda de branco, para se casar com você. Ser mãe dos teus filhos. Conviver com você todos os dias, e de forma alguma era ela...
Eu sabia que ia encontrar a mulher da minha vida, que me completaria em tudo. De repente lá estava eu rindo, dançando, querendo viver a cada momento minha ‘fossa’ como se tivesse sarado de uma doença.
Não levava nada e nem ninguém a serio. Os lugares pra onde eu ia não importavam. Só queria fazer o que me dessa vontade, sem compromissos e sem horário. Estava sozinho sem ninguém e, não me sentia sozinho apesar de tudo. Compreendi que a vida tinha me dado uma nova chance para encontrar a mulher que me faria feliz pro resto da vida e eu faria o mesmo por ela. Várias pessoas passaram por mim, mas, nunca prometi nada para elas, pois sabia que não estava na hora. Não ia ficar dizendo coisas para uma pessoa as quais não sentia nada ainda. Não queria iludir ninguém, magoar ninguém. Quando chegasse à hora ia ser espontâneo para a pessoa que eu fosse conhecer e conviver.
No fundo acho que o sistema de auto defesa ainda estava ligado e eu não queria me machucar também. Aí, num dia, na minha ingenuidade estava cansado daquela vida. Parecia cachorro sem dono. Foi aí que achei que tava na hora de ter alguém ao meu lado pra dividir problemas, tristezas, alegrias. Tudo isso que a gente imagina num relacionamento a dois e, que eu ainda nunca tinha tido.
Mas ninguém conseguia me completar, preencher aquele espaço no fundo do coração amargurado que só uma pessoa consegue fazer. Mais uma vez lá estava eu brigando com a vida tentando mudar as regras por achar que quem fazia minha vida era eu mesmo. E num belo dia resolvi que não iria ficar buscando ninguém e o que tivesse que acontecer veria com o tempo. Mas nada acontecia. Achei que talvez o problema estivesse comigo. Não sabia me relacionar, tinha amigos, família, era feliz, mas não bastava. Faltava alguma coisa. Faltava alguém em minha vida.
As analises em que eu fazia de mim mesmo é que eu não levava ninguém a serio, que eu brincava com os sentimentos dos outros, pouco me importando com o que sentiam. Não era nada disto. Apenas não conseguia encontrar o par certo. Aquela em que disparasse a campainha do meu coração. Que acelerasse os batimentos enfim, tudo que me esquentasse e ferveria no meu sangue.
Aí estava eu vendo uns discos (Long. Plays), pesquisando preço quando por um segundo virei à cabeça e olhei pra tras. Aí a campainha tocou tão alta e meu sangue ferveu que achei que era mais forte que a musica que estava tocando. Eu não acreditava no que estava vendo. Era ela. A mulher da minha vida. Senti que tinha chegado a hora, tava ali a chance que a vida tinha me dado.
Não era só uma atração sexual. Sabe aquilo que a gente olha e só o corpo atrai. Não, não era isso. Não era uma atração tipo pela beleza. Também não era isso, era algo forte. Era ternura, carinho, desejo. O coração batia mais forte e mais depressa. Eu já não conseguia pensar em mais nada. Só pensava nela e eu não conseguia olhar para outro lugar que não fosse onde ela estava. Parecia que mesmo de longe eu sentia o seu calor. Só dava para ver que era alta, tinha os cabelos longos e pelo jeito físico devia ter um ‘baita’ corpão. E tinha mesmo. Sempre gostei de mulher grandona e não era só isso que me prendia a ela, era muito mais.
Fui falar com ela. Não para dar uma cantada barata, pois isto é de um cara ‘babaca’. Se você não tem algo para dizer pra mulher é melhor ficar calado. Eu não sabia o que ia dizer tava meio tonta ainda. Parecia um garoto bobo e não queria que ela percebesse, mas eu já estava louco por ela e, ela, não iria entender isso. Afinal quem entenderia em se apaixonar sem se conhecer. Na primeira aproximação já levei um ‘banho frio’. Também fiquei pensando que coisa mais boba para dizer. Mesmo assim aquilo me atraia justamente pelo jeitão sério dela. Fiquei pensando que talvez não tivesse me expressado bem, não tinha sido sincero. Também não a conhecia, não sabia pelo que ela talvez tivesse passado.
Mesmo assim insisti e voltei a conversar com ela e desta vez pra dizer o que eu estava sentido, sem ensaiar nada e pouco me importando com o segundo ‘banho frio’. Se desta vez ela não entendesse o mais sincero em que eu poderia ser; eu não queria mais nada em troca. Não esperava receber nada. Não era cantada. Eu queria ser apenas eu mesmo pra ela sentir que ela me deixava à vontade pra fazer isso.
Aí ela ficou me olhando e quando eu acabei de dizer o que sentia virei às costas e fui embora. Afinal ela estava com suas amigas de serviço e eu não queria ser aquele chato que pendura na pessoa e no final das contas oferece uma carona, uma bebida ou coisa assim, tipo preparando o terreno pra dar o golpe ou cantada. Eu queria que ela soubesse que o motivo de eu estar ali não significava isso.
Fui embora pra casa feliz comigo mesmo por ter sido sincero e ter tido a oportunidade de dizer aquilo pra ela. Ela não me saia da cabeça, do meu pensamento. Quando a via as minhas pernas tremiam um tanto que nem parecia bambu em forte ventania. Eu me engasgava com minhas salivas e, ficava me beliscando pra ver se estava acordado.
Aí veio o ano novo. Todos anteriores tinham sido chatos e tristes e, deste ano eu sabia que ia ser diferente. Quando, ao sair do serviço, fui até onde ela trabalhava para comprar um disco qualquer. Só para fazer ‘média’ e estar ao seu lado, sentir seu perfume e ouvir a sua voz. Parece que foi obra do destino quando ela me chamou para irmos à delegacia. Ela tinha que testemunhar sobre um acidente, ocasionada pela queda de uma senhora idosa ao subir nos degraus do ônibus e o motorista deu a partida sem prestar a atenção. Estava chovendo e ela sem um guarda-chuva e, o caminho ate o DP era de aproximadamente três quilômetros e teríamos que ir andando. Que felicidade, meu guarda-chuva para nos dois... Ela se aconchegou em meu braço pra não se molhar e assim fomos andando e conversando.
Hoje, passados 26 anos, com muitos altos e baixos; com trancos e barrancos estamos vivendo e lutando. Dois filhos casados e uma netinha abençoada que só nos causa alegria. Apesar das dificuldades que enfrentamos e estamos enfrentando. Com as percas dos nossos entes queridos, estamos passando, a cada momento, provações de lutas e entendimentos familiares. Sabemos que a luta é árdua, mas temos em nossa vida um Deus vivo que nos dá força para continuarmos nesta caminhada...
10/05/2012