SER LOUCO POR UM ACASO

A MULHER JÁ TINHA IDO EMBORA DE CASA UMA VEZ,

NEM CHEGOU A AVISAR O MARIDO, SIMPLESMENTE PARTIU.

MAS, A SAUDADE BATEU, ARREPENDIMENTO,

ACABOU VOLTANDO AO SEU LAR,

PEDIU DESCULPAS, NUNCA MAIS FARIA ISSO NOVAMENTE.

LEVAVAM UMA VIDA RELATIVAMENTE FELIZ,

JÁ NÃO BRIGAVAM TANTO MAIS,

ERA UMA CONVIVÊNCIA BOA, HAVIA AMOR,

PARA EVITAR NOVO ROMPIMENTO,

UM TRATAVA O OUTRO MELHOR...

NUMA CERTA NOITE, A MULHER FOI FAZER UMA COMPRA,

NUM MERCADO QUE FICAVA LONGINHO,

PRECISAVA PEGAR UM TRECHO DE ESTRADA,

E, POR AZAR, O CARRO ESTRAGOU ALI,

E O PIOR MESMO ERA QUE O CELULAR ESTAVA DESCARREGADO,

POR DESCUIDO, TINHA DEIXADO PARA FAZER ISSO DEPOIS...

O JEITO ERA PEDIR AJUDA AOS QUE PASSAVAM DE CARRO,

COISA DEMASIADAMENTE PERIGOSA, NUMA ESTRADA À NOITE,

NENHUM MOTORISTA ARRISCAVA PARAR,

ATÉ QUE A MULHER FOI FICANDO DESALENTADA...

PORÉM, NÃO HAVIA OUTRA OPÇÃO,

TINHA QUE FICAR ACENANDO NA ESTRADA,

MESMO QUE TIVESSE QUE AMANHECER O DIA ALI...

TINHA QUE IR ATÉ ALGUÉM QUE FIZESSE O REBOQUE,

OU PELO MENOS A DEIXASSE NUM PONTO COM ACESSO À CIDADE...

JÁ BEM DESANIMADA, QUASE CHORANDO, MAS ACENANDO AINDA,

UM ÔNIBUS PAROU, O MOTORISTA NÃO FICOU COM RECEIO

QUE FOSSE ALGUMA ARMADILHA, O ÔNIBUS ESTAVA CHEIO

DE PASSAGEIRAS, TODAS MULHERES, EXCETO O MOTORISTA.

A MULHER DIZENDO QUE O CARRO QUEBROU E PRECISAVA

DE UMA CARONA ATÉ A CIDADE, E QUE ALÍVIO!

O MOTORISTA PERMITIU QUE ELA ENTRASSE NO VEÍCULO...

MAS AS PESSOAS LÁ DENTRO ERAM ESTRANHAS,

ALGUMAS FALAVAM COISA COM COISA,

O IMPORTANTE, PORÉM, ERA TER SAÍDO DO SUFOCO DA ESTRADA...

O DESTINO DO ÔNIBUS ERA UM HOSPITAL,

E ESTE FICAVA POUCO ANTES DA ENTRADA DA CIDADE...

JUSTAMENTE ESTE PAROU ALI PARA DEIXAR AS MULHERES,

QUE TINHAM IDO FAZER UM PASSEIO EXCEPCIONAL...

QUASE NÃO SAÍAM DAQUELE ESTABELECIMENTO...

BOM, A MULHER DISSE QUE QUERIA DESCER ALI MESMO,

TEMENDO FICAR SOZINHA COM O MOTORISTA,

E PENSOU QUE DALI PODERIA USAR O TELEFONE,

LIGAR PARA O MARIDO, ENFIM, RESOLVER TUDO...

PORÉM, ERA UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO,

E AS MULHERES DO ÔNIBUS ERAM PESSOAS INTERNADAS LÁ,

DE MODO QUE A MULHER FOI CONFUNDIDA COM AS OUTRAS...

ELA PEDIA PARA FAZER UMA LIGAÇÃO AO MARIDO,

CONTAVA O QUE TINHA ACONTECIDO,

CONTUDO, OS ENFERMEIROS DIZIAM QUE ERA DELÍRIO...

POR MAIS QUE TENTASSE EXPLICAR, PIOR ERA...

LEVARAM AO MÉDICO DE PLANTÃO, E A MULHER

JÁ FICANDO NOVAMENTE DESESPERADA,

COMEÇOU A DIZER, CHORANDO, QUE ERA UM ENGANO ESTAR ALI,

SEU CARRO ESTAVA NA ESTRADA, ELA SÓ PEGOU UMA CARONA...

O MÉDICO PARECIA OUVIR, MAS ESSAS DOIDINHAS

INVENTAM MIL COISAS,

E ELE FALOU QUE ELA IA MELHORAR...

QUE NO DIA SEGUINTE IA ACORDAR BEM...

JÁ FOI RECEITANDO SEUS MEDICAMENTOS...

PASSANDO AOS ENFERMEIROS,

QUE A LEVARAM PARA SEU NOVO QUARTO...

FOI OBRIGADA A TOMAR OS REMÉDIOS,

ERAM FORTES, FICOU DOPADA,

PERDEU NOÇÃO EM PARTE DO QUE ACONTECIA,

PELO MENOS DORMIU POR UNS DOIS DIAS SEGUIDOS...

QUANDO ACORDOU, MEIO SEM RUMO,

PENSOU SE AQUILO ERA UM PESADELO...

MAS NÃO, ERA REAL...

O QUE FAZER PARA SAIR DALI,

SE NÃO PODIA LIGAR PARA NINGUÉM,

NENHUM PROFISSIONAL ACREDITAVA NELA,

E OUTRO DIA, MAIS REMÉDIOS,

MAIS SONO, MAIS CONFUSA, MAIS PANE...

O MARIDO EM CASA, VIU QUE SUA MULHER

TINHA SUMIDO, E PENSOU QUE OUTRA VEZ

O ABANDONOU SEM AVISAR NADA,

E ELE NEM IMAGINOU PROCURAR,

JÁ CRENDO QUE SE ELA QUISESSE,

ELA VOLTARIA OU DARIA NOTÍCIAS.

A MULHER FICOU MESES NO HOSPITAL...

TRATADA ASSIM COMO AS OUTRAS INTERNAS...

ATÉ QUE UM DIA, POR COINCIDÊNCIA,

UMA CONHECIDA DA FAMÍLIA DELA

FOI VISITAR UMA OUTRA PESSOA,

QUE ESTAVA LÁ TAMBÉM, E A VIU E SE ESPANTOU,

PERGUNTANDO O PORQUÊ DE ELA ESTAR INTERNADA...

ELA, NUM CERTO TOM DE DESESPERO, PEDIU

ENCARECIDAMENTE À CONHECIDA, QUE AVISASSE

O MARIDO OU A FAMÍLIA, QUE ELA ESTAVA LÁ,

PARA A BUSCAREM... E A VISITANTE DISSE QUE SIM,

FARIA ISSO NO MESMO DIA...

NO MESMO DIA, MAS JÁ ERA NOITE,

O MARIDO APARECEU NO HOSPITAL...

FOI UMA VISITA FORA DE HORÁRIO,

CONTUDO, FOI PERMITIDA,

MEIO CONFUSO, NADA ENTENDENDO

FOI AO ENCONTRO DA SUA MULHER...

PERGUNTAR O QUE HAVIA ACONTECIDO,

POR QUE O ABANDONOU,

E ACABOU NUM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO...

A MULHER ESTAVA SOB FORTE EFEITO DE REMÉDIO,

POIS A NOITE ERA HORA QUE JÁ TINHA TOMADO,

E DE DIA FICAVA MELHOR, MAS AGORA FICAVA ASSIM,

COM OBJETIVO DE DORMIR BASTANTE...

SENDO ASSIM, ELA TEVE DIFICULDADE DE EXPLICAR

TUDO O QUE HOUVE, E ATÉ MISTUROU AS COISAS,

ESTAVA CONSCIENTE, ESTAVA BEM,

MAS FALANDO COM VOZ MEIO MOLE,

E O MARIDO, VENDO SUA MULHER,

NUM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO,

E O JEITO DELA...

FALANDO QUE ELA IA MELHORAR,

LOGO IRIA FICAR BOA,

QUE ERA CORRETO ELA FICAR MAIS UM TEMPO INTERNADA...

MESMO GROGUE, A MULHER FICOU BRAVA,

PORQUE ELE TAMBÉM NÃO ESTAVA ENTENDENDO.

DE REPENTE, O MUNDO INTEIRO A ACHA LOUCA,

E POR MAIS QUE TENTE EXPLICAR,

FALAR BASTANTE PALAVRAS,

A OUTRA PESSOA SÓ LHE DIZ:NÃO, NÃO!

A MULHER FICOU LÁ MAIS MESES,

E O MARIDO DIZIA: EU VOU FICAR COM UMA LOUCA AGORA?

ARRUMOU OUTRA PESSOA, CASOU-SE NOVAMENTE...

UM DIA O HOSPITAL FECHOU E AS PESSOAS LÁ

NA MAIORIA ERAM ENCAMINHADAS PARA OUTROS LUGARES,

DE MODO QUE A MULHER, PÔDE SAIR,

E SUA FAMÍLIA MORAVA LONGE DEMAIS,

RAZÃO PELA QUAL ERA AINDA MAIS DIFÍCIL

TER ENTRADO EM CONTATO COM ELES,

E POR OUTROS MOTIVOS, ELA ESTAVA DE MAL

COM A MAIORIA DELES...

POR ISSO, NUNCA RECEBERA VISITA DE NENHUM...

A MULHER SAIU NAS RUAS, SEM ORIENTE ALGUM,

TAXADA DE LOUCA, PARCAS ROUPAS,

SEM DIREÇÃO, SEM DINHEIRO,

SEM RUMO, SEM PRUMO...

FOI PEDIR AJUDA PARA COMER ALGO,

OU TER ALGUM ABRIGO,

FOI NUMA REPARTIÇÃO PÚBLICA,

QUE CONSEGUIU LEMBRAR ONDE FICAVA,

FOI A PÉ, CANSADA, CHEGOU LÁ,

E FOI PEDINDO AJUDA, QUASE CHORANDO DE NOVO...

QUEM A ATENDEU, UM CERTO HOMEM,

FUNCIONÁRIO, DISSE QUE OS ALBERGUES ESTAVAM

SEM VAGAS, E SÓ LHE PODIA PAGAR UM LANCHE,

COM SEU PRÓPRIO RECURSO...

ELA ACEITOU, E DEBRUÇOU A DERRAMAR MUITAS LÁGRIMAS...

O HOMEM TEVE PENA E PERGUNTOU O QUE ACONTECIA,

E ELA MAIS UMA VEZ EXPLICOU TUDO,

POR BEM OU POR MAL, O FUNCIONÁRIO FOI COMPREENSIVO,

ACREDITOU NA HISTÓRIA, NÃO A TAXOU DE LOUCA,

E VIU QUE TRAGÉDIA ELA PASSOU...

PARA RESUMIR, TUDO ACABOU DANDO CERTO NO FINAL,

VOLTAR COM O MARIDO NÃO DAVA MAIS,

DE QUALQUER FORMA TINHA RAIVA DELE,

PORÉM, CASOU-SE DE NOVO,

E DESTA VEZ, SE SAÍSSE POR UMA ESTRADA,

LEVAVA DEZ CELULARES CARREGADOS...

(RELEITURA DE G. G. MARQUES)

Wanderson Benedito Ribeiro
Enviado por Wanderson Benedito Ribeiro em 07/05/2012
Reeditado em 27/10/2013
Código do texto: T3654685
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