Porque a mala do Juca engastalhou na Estação Ferroviária de Itaúna por três dias.
Porque a mala do Juca engastalhou na Estação Ferroviária de Itaúna por três dias.
História imaginável do osnofa
O Juca andava ali pelas bandas da Praça da Dr. Augusto Gonçalves e resolveu dar uma paradinha na porta da Loja Adolfo Mendes pra espiar e ouvir as notícias do dia. É que a Loja Adolfo Mendes mantem sempre uma TV ligada na programação nacional e era hora do noticiário, o repórter da Globo falava sobre a inauguração da Zona Franca de Manaus; onde o brasileiro pode fazer suas compras de importados livre do imposto devido. Dono de uma loja de ferramentas e artigos variados ali na Praça do Capeta, o Juca não pensou duas vezes: lá vou eu fazer minhas comprinhas, rapidamente foi ao Banco da Lavoura e sacou suas economias e em seguida foi pra casa bem depressa. Fez sua mala, pegou carona no taxi do Baiano que vinha descendo ali da Zona Boemia e mandou seguir para a Praça da Estação, embarcou no primeiro trem de passageiros de Itaúna a Belo Horizonte. Chegando à capital foi direto pra rodoviária e embarcou no primeiro ônibus rumo a Manaus, mais ou menos cinco dias de viagem.
O osnofa não pode deixar de fazer o seu comentário sobre a Estação Ferroviária de Itaúna. Segundo informações corretíssimas do amigo Mossias que trabalhou até aposentar-se na rede ferroviária. Itaúna tem três estações ferroviárias, uma em Santanense, outra em Angicos e a estação principal, bem no centro da cidade, local conhecido como Praça da Estação. Um conjunto arquitetônico da maior importância foi construído em nossa cidade, o complexo de casas abrigava gente ilustre como engenheiros da rede e funcionários, no local também tem um enorme galpão onde era feito a manutenção de locomotivas e vagões. Do centro de Itaúna você viajava até Santanense, Angico, Cajuru, Divinópolis e de Divinópolis você viajava até o Triangulo Mineiro, ou você ia de Itaúna, para Azurita, Mateus Leme, Belo Horizonte e de lá o trem seguia até Vitória no Espirito Santo, a viagem prometia uma aventura, era um passeio inesquecível. Nos dias de hoje podemos ir de trem de Bh até Vitória, no trem da Vale. Nunca fiz esta viagem, mas tenho conhecimento que é mesmo uma viagem inesquecível, este bom tempo se foi e a Estação desativada virou museu, informações da época podem ser encontradas por lá e se você deseja conhecer melhor nossa Itaúna visite a Fundação Maria de Castro Nogueira, onde o pesquisador Dr. Guaracy de Castro Nogueira garimpou por longos anos e registrou em suas valiosas pesquisas uma serie de informações imperdíveis sobre nossa cidade, nosso povo e nossos costumes.
Agora você vai ficar sabendo tim... por tim... , porque a mala do Juca engastalhou na estação Ferroviária de Itaúna por três dias e como foi retirada de lá. Assim que o trem parou na estação a banda de música começou a tocar, era o “Dia do Itaunense Ausente”, um dia de festa para que os conterrâneos pudessem se encontrar e hoje não tem mais esta comemoração. Assim que desceu do trem, o Juca foi informado pelo funcionário da estação, que sua mala ficaria retida até que fosse providenciado um veiculo para transportá-la, pois a mesma estava com excesso de peso mais ou menos uns quatro mil quilos, foi preciso de um guincho para retirá-la do compartimento de cargas. O Juca, como esteve ausente, tranquilamente aproveitou dos festejos sobre o dia do itaunense e mais tarde foi embora descansar da longa viagem.
No outro dia, bem cedo, antes de abrir a Loja de Ferramentas o Juca foi até a estação buscar sua mala, ali bem perto havia a Casa da Banha do amigo Tim Tavares que possuía um caminhão, que poderia realizar este transporte. Explicando a situação para o amigo, se deu conta que seria impossível fazer o transporte pois o caminhão do Tim Tavares comerciante famoso em Itaúna, ainda a pouco partiu com destino a Belo Horizonte para buscar mercadorias e a solução seria a carrocinha do Correio. O Juca sem titubear partiu logo rumo ao correio, lá conversou com a dona Margarida, que era a chefe da repartição dos correios em Itaúna que prontamente autorizou o uso da carrocinha para desempenhar a devida função. A mala foi dividida em três cargas e somente depois de três dias a mercadoria chegou a Loja de Ferramentas do Juca, isto só foi possível graças à valiosa ajuda dos chapas que ficavam ali na estação, assim a situação foi resolvida.
Você pode não acreditar, foram mais de cinquenta itens que o Juca comprou na Zona Franca de Manaus para a sua loja. Novidades de todos os tipos, pés de cabras de puro aço alemão, vieram cem peças; era mesmo uma variedade enorme de mercadorias impossível citar todas, mas duas coisas me chamaram atenção, o famoso canivete MacGyver importado da Suíça o Juca trouxe mil unidades e a famosa pomada japonesa que era o viagra da época, trouxe duas mil latinhas.
Assim que o Juca colocou as mercadorias em ordem nas prateleiras já era tarde, então antes de ir para casa foi tomar umas e outras com os amigos Dr. Valter e Zé Nogueira ali no Bar Tip Top, propriedade do conhecido Sr. Antônio Leiteiro, pai do famoso violeiro e seresteiro Juraci. O Bar ficava na Praça do Capeta, pé da zona, contando as novidades para os amigos presenteou os amigos com o canivete MacGyver e deu para o Juraci que estava atendendo no balcão, uma latinha da pomada japonesa, com as devidas recomendações de uso. Mais tarde cada um foi embora para o seu canto e o Juraci foi testar a pomada japonesa lá na zona.
No dia seguinte, assim que a Loja de Ferramentas abriu as portas, as pessoas começaram a chegar e comprar canivete MacGyver e pomada japonesa. Foi aí que a Loja de Ferramentas do Juca ficou famosa. Foram muitas as viagens que o Juca fez a Manaus para fazer suas comprinhas e nunca pode esquecer de trazer as encomendas: canivete MacGyver e a pomada japonesa.
A Estação Ferroviária de Itaúna fora palco de várias histórias interessantes como esta da mala que ficou engastalhada por lá durante três dias por causa do excesso de peso. O osnofa conta com carinho esta lembrança imaginável, mas sabe que na nossa Estação Ferroviária o povo itaunense viveu grandes momentos que marcaram suas vidas e alimentaram tantos sonhos, viajando de trem ou de Maria Fumaça que nos levavam e nos traziam de volta tantas vezes. A Loja do Juca, o canivete MacGyver e a pomada japonesa me serviram de fonte inspiradora para lembrar esses bons tempos de Itaúna.
Osnofa.una@hotmail.com