A consulta médica do Jeca.
Eusébio estava passando muito mal. Acordou às quatro horas da madruga, tomou um café ralo acompanhado de um pão duro e partiu para o posto de saúde, enfrentar a fila por uma ficha de consulta médica. Alguém pode até perguntar: "Por que, meu DEUS, ele tem que sair às quatro horas de casa se o posto médico só abre às oito horas?..."
Eusébio não vai saber explicar, pois ele já faz isso mecanicamente, como todos que lá estão engrossando a fila na frente do posto médico. Então, explico eu. É o seguinte, aquela velha e antiga lei da oferta e procura. O povo está doente, pois se alimenta mal, vive mal, trabalha demais e descansa de menos,... as unidades de saude pública, por sua vez, são poucas e em sua maioria, com poucos profissionais qualificados que queiram ali trabalhar, ser médico de saude pública é muito difícil, e a maioria prefere clínicas particulares ou ter seus próprios consultórios médicos. Enfim... muitos doentes e pouca assistência, resultado: postos de saude, prontos socorros abarrotados de gente que não tem dinheiro para pagar planos nem consultas particulares...
Bom, Eusébio conseguiu sua ficha (teve sorte naquele dia) e ia consultar no horário das NOVE HORAS (segundo horário), que geralmente começa às onze. Tudo bem! Melhor que nada, né, pois já não sabia o que fazer de tanto sentir dor e não conseguir defecar há vários dias, totalmente travado.
Enquanto esperava, rodopiava dentro da barriga dele as tripas revoltadas, enfezadas que só, se contorcendo entre si e doendo,... Eusebio suava frio, passava a mão na testa e se encolhia e pensava: "Ai, meu Jisuizin Cristim, quanto eu num dava por uma boa cagada?!!! Me socorre!" e a dor só aumentando...
Ele corre pro banheiro masculino, uma moça estava limpando, e Eusébio não quis atrapalhar, voltou pro seu lugar... mas daqui a alguns infinitos segundos, não aguentando mais, corre pro banheiro novamente. Um homem saindo e a moça pergunta: "Moço, o senhor fez nº 1 ou nº 2?"... O homem não responde... Mas Eusébio, que estava naquela situação tinha enchido o vaso de nº 2 até dizer chega,... e um número 2 que não ia embora fácil. Deu uma descarga, duas , três, e nada de ir embora. Ele com a cara de quem estava muito envergonhado, abre a porta do reservado e fala: "Moça, aquele homi eu num sei, mas eu fiz muitos númuros 2 aqui e perciso dum bardi d'água pra modo di mandar eis imbora!"
A moça responde: "Pode deixar moço, a gente já tá acostumada com a matemática do povo... Nós resolvemos."
Eusébio volta um pouco aliviado, se sentindo menos pesado, menos enfezado... Mas passado algum tempo, volta a danada da dor nas tripas e ele sente contorcer a alma dentro delas querendo desagua num aguaceiro de merda... até que ouve seu nome sendo chamado dentro do consultório:
_Eusébio Silva Pinto, pode entrar.
Ele entra (e uma nuvem fétida, e uma poça que escorria perna abaixo molhando o chão cada vez que andava entra acompanhando-o).
O médico pergunta em que poderia ajudar e ele responde:
_ Ai dotor, num carece de ajudar mai em nada, não sinhô!
E o médico coçando o nariz, num desejo de não sentir mais aquele fudum, pergunta:
-Por que Eusébio, você não precisa mais da minha ajuda?
-Ara dotor, meu pobrema era fazê cocô, mai eu já me caguei todo... carece de ajuda não...
Eusébio não vai saber explicar, pois ele já faz isso mecanicamente, como todos que lá estão engrossando a fila na frente do posto médico. Então, explico eu. É o seguinte, aquela velha e antiga lei da oferta e procura. O povo está doente, pois se alimenta mal, vive mal, trabalha demais e descansa de menos,... as unidades de saude pública, por sua vez, são poucas e em sua maioria, com poucos profissionais qualificados que queiram ali trabalhar, ser médico de saude pública é muito difícil, e a maioria prefere clínicas particulares ou ter seus próprios consultórios médicos. Enfim... muitos doentes e pouca assistência, resultado: postos de saude, prontos socorros abarrotados de gente que não tem dinheiro para pagar planos nem consultas particulares...
Bom, Eusébio conseguiu sua ficha (teve sorte naquele dia) e ia consultar no horário das NOVE HORAS (segundo horário), que geralmente começa às onze. Tudo bem! Melhor que nada, né, pois já não sabia o que fazer de tanto sentir dor e não conseguir defecar há vários dias, totalmente travado.
Enquanto esperava, rodopiava dentro da barriga dele as tripas revoltadas, enfezadas que só, se contorcendo entre si e doendo,... Eusebio suava frio, passava a mão na testa e se encolhia e pensava: "Ai, meu Jisuizin Cristim, quanto eu num dava por uma boa cagada?!!! Me socorre!" e a dor só aumentando...
Ele corre pro banheiro masculino, uma moça estava limpando, e Eusébio não quis atrapalhar, voltou pro seu lugar... mas daqui a alguns infinitos segundos, não aguentando mais, corre pro banheiro novamente. Um homem saindo e a moça pergunta: "Moço, o senhor fez nº 1 ou nº 2?"... O homem não responde... Mas Eusébio, que estava naquela situação tinha enchido o vaso de nº 2 até dizer chega,... e um número 2 que não ia embora fácil. Deu uma descarga, duas , três, e nada de ir embora. Ele com a cara de quem estava muito envergonhado, abre a porta do reservado e fala: "Moça, aquele homi eu num sei, mas eu fiz muitos númuros 2 aqui e perciso dum bardi d'água pra modo di mandar eis imbora!"
A moça responde: "Pode deixar moço, a gente já tá acostumada com a matemática do povo... Nós resolvemos."
Eusébio volta um pouco aliviado, se sentindo menos pesado, menos enfezado... Mas passado algum tempo, volta a danada da dor nas tripas e ele sente contorcer a alma dentro delas querendo desagua num aguaceiro de merda... até que ouve seu nome sendo chamado dentro do consultório:
_Eusébio Silva Pinto, pode entrar.
Ele entra (e uma nuvem fétida, e uma poça que escorria perna abaixo molhando o chão cada vez que andava entra acompanhando-o).
O médico pergunta em que poderia ajudar e ele responde:
_ Ai dotor, num carece de ajudar mai em nada, não sinhô!
E o médico coçando o nariz, num desejo de não sentir mais aquele fudum, pergunta:
-Por que Eusébio, você não precisa mais da minha ajuda?
-Ara dotor, meu pobrema era fazê cocô, mai eu já me caguei todo... carece de ajuda não...
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 05/05/2012