O Almoço

Tonho por questões pessoais e bem íntimas detesta tudo que tem pena. Se você é amigo dele nunca lhe ofereça nenhum prato que venha de algum bicho de pena. É caso de briga, de ficar de mal. O homem é tão cismado que nem caldo de carne lhe vai à mesa. E sabendo disso nós, seus amigos e claro, os parentes ,sempre o respeitamos. Afinal cada um com o seu gosto e mania, não é mesmo? Pois esta quem me contou foi o Luca, irmão mais velho do Tonho, prosa boa, gente melhor ainda. Pois bem. Ele viajaram até São Paulo, visitar dona Doca, a irmã que há muitos anos não viam. Foram matar saudades. E saudade de tantos anos se mata com um almoço daqueles, principalmente, se a visita chega num domingo, pela manhã. Só que a Doca achando que o mano tinha se curado daquela frescura, resolveu que uma panelada de pescoço de peru,um angu à mineira e respeitando o Luca, mas satisfazendo o Tonho, uma boa pinga, meu Deus, os manos ficariam felizes.

Almoço pronto, todos à mesa, Luca fez a oração e quando destamparam a panela, aquele cheiro delicioso fazendo cócegas no nariz e no paladar do Tonho, enchendo a sua boca de água, mas...

Tonho sentou-se desanimado ou decepcionado, vendo todos satisfeitos, alguns até já repetindo e o Luca com as mãos gordurosas chegou até a piscar pra ele, ainda de prato na mão e vazio.

Foi quando a Doca, um tanto aborrecida com ela mesmo se desculpou:

_Oh, meu irmão, eu nem me lembrei da sua cisma, juro. Eu não teria feito pescoço de peru, me desculpe.

Tonho já vencido pelo cheiro e pela docilidade de sua irmã, avançou pra panela e pegando dois bons pedaços, comentou:

_Mana, esta rabada deve de tá uma delícia...