A surra
E dei de cara com o Neco. Um olho roxo, esparadrapo tamanho família na testa, dentes quebrados, braço na tipoia.
_ Pô, Neco, que estrago. Acidente?
_ Nada, meu amigo, antes fosse. Foi assalto.
Encarei o espanto.
_Assalto? E apanhou tanto assim?
Voz entrecortada de dor, chorosa.
_ Foi ontem de noitinha, dia de pagamento, quis cortar caminho pelas bandas da estação... quando entrei no pontilhão, já quase na metade, surgiram dois sujeitos, um vindo e o outro voltando, fiquei no meio, e me pegaram na covardia, batendo à vontade, tentando roubar meu pagamento e eu num ia deixar o leite dos meninos e o brinco da patroa nas mãos daqueles bandidos, não. Bati também. Reagi, você me conhece. inda mais que tinha tomado umas, mas aí apareceu outro cara e o bicho pegou. Apanhei pra burro, só num morri porque apareceu gente gritando,
chamando a polícia aos berros e o segurança da estação deu uns tiros pra cima, então eles fugiram e me deixaram lá sangrando, todo moído. Dei sorte que num deu pra eles levarem o meu dinheiro...
_É, meu caro, sorte? Você renasceu.
_ Pois é... vou nessa.
_Vai com Deus e cuidado, meu amigo.
Entrei no bar do Peladinho. Encontrei Tonin-Cachaça varrendo o ambiente.
_Cê viu o que fizeram com o Neco, coitado...
_Fizeram?
_É, ontem, lá na estação. Massacraram ele. Tomou uma surra e tanto.
Toninho parou de varrer. Apoiou-se na vassoura.
_Que estação que nada. O caso é que ele chegou em casa tarde da noite com cheiro de mulher de outro, então a mulher dele cobriu o cacete. Estação, é ruim hem...
Sentei-me na primeira cadeira que se oferecia. Pedi uma cerveja e mergulhei os olhos no jornal do dia.