AS PERALTICES DO VOVÔ
Vovô Zezito era um homem que gostava de viver. Por toda a sua caminhada celebrava a vida com arte, prazer.
Aprendeu a dirigir cedo, num daqueles modelos Ford antigo. No primeiro dia em que ele entrou no dito carro, para todo prosa, mostrar para os amigos que sabia conduzir aquele brinquedo de gente grande, ele exclamou: “ agora tenho uma casa de quatro rodas, onde posso ir ao lugar que quiser”. Espirituoso como sempre, levava assim a vida que escolheu viver.
Nos dias festivos de carnaval, em sua pequena cidade do interior baiano, enfeitava o Ford, colocava a filharada e ficava fazendo algazarra, circulando ao redor do jardim na pracinha da cidade.Todos saiam para ver a alegria do “velho”.
Era um exímio pescador, mas sempre escapulia o maior peixe no momento máximo. Conversa de pescador; ele não poderia fugir à regra.
Das muitas estrepulias que protagonizava, separei uma que é hilária.
Morava numa rua que quando se abre a janela, dá-se de cara com o vizinho do lado oposto.
À tarde quando o sol se declinava, ele tinha o hábito de por a cadeira na calçada para apreciar as novidades. Havia, também, uma senhora do outro lado que fazia o mesmo. E os dois trocavam conversinhas de não se jogar fora.
Certo dia, os dois estavam a deliciar do frescor do fim de tarde. Do outro lado da rua, um pouco mais adiante, havia uma garagem adaptada para escritório de um velho corretor.
Este corretor, inocentemente, não percebeu que os dois ficavam de olhos nas novidades que apareciam. Discretamente o corretor chegou com uma vistosa garota para a “ceia da tarde”.
O discreto dom Juan, para que não houvesse qualquer suspeita sobre os dois, deixou a porta do escritório entreaberta (era uma porta larga que se dividia em duas).
Os dois espiões, na calçada, cada um na sua, ficaram acesos. Uma gritou: oba tem novidades!
O outro respondeu: a festa vai ser boa, não vai? E ela retrucou: se vai?! Vamos ver a hora em que isso terminará.
Como os pombinhos demoraram demais no escritório da alcova, o que o vovô fez? Entrou em casa, pegou um arame grosso, muniu-se de um alicate e partiu para a ação. Foi na ponta dos pés até a porta do escritório e no local onde se coloca o cadeado, ele puxou as duas bandas da porta e introduziu o arame nos orifícios que tinham as duas partes da banda da porta amarrando com a ajuda do alicate. Pronto! O estrago está feito, falou o vovô morrendo de ri. Neste momento tanto o vovô como a senhora entraram em casa e ficaram na greta de suas janelas esperando o desfecho da artimanha.
Qual foi o resultado? Quando acabou o embalo do amor, como sair se estavam trancafiados?
Os pombinhos começaram a esmurrar a porta, pedindo ajuda.
O vovô com a cara mais lavada saiu fora e perguntou o que está havendo, mano? E o homem lá de dentro respondeu: deixei a porta aberta, veio um malandro qualquer e amarrou este arame e fiquei aqui preso. E o vovô respondeu: mais que gente sem o que fazer! Como faz uma coisa dessas com um cidadão como o senhor, seu corretor?
E a senhora estava às gargalhadas e dizia: o que aconteceu seu Zezito? E ele respondeu ironicamente: prenderam o senhor corretor com a senhorita aqui dentro. Já se viu uma situação assim?
A esta altura dos acontecimentos a rua estava cheia de gente para ver o espetáculo. O relógio badalava 20h00.
Os dois cabisbaixos (corretor e namorada) saíram sem olhar para ninguém.
No dia seguinte era só o que se falava: trancaram o corretor bem na hora do “vamos ver” com a amada.
Moral da história: o corretor sumiu da rua e foi cantar amor em outras plagas. E o vovô?! ah, o vovô se explodiu de tanto ri!