Bem que o final da noite poderia ter sido diferente

Nunca havia trabalhado na vida. Nada lhe faltou na infância, e o fato se repetiu na adolescência.

Estudar? Só mesmo o basicão. Aprendeu a escrever, a fazer as quatro operações e para ele estava bom demais. Era filho único; o pai era rico e “jamais lhe deixaria na mão”, dizia ele sempre que um amigo mais próximo ou parente o admoestava a estudar e a pensar no futuro.

Terêncio que não se sabe o porquê ganhou o apelido de Jejebinha, gostava mesmo era de dançar, namorar, beber e gastar o dinherão do pai, já setentão.

Nas festas gostava de “bulir” com o que era dos outros. Jovem, bonito e com muito boi no pasto, não era difícil seduzir as jovens mulheres dos peões das fazendas da região que em dia de folia se juntavam no único clube da pequena cidade.

Em alguns casos, por mais incrível que possa parecer, os próprios maridos empurravam as mulheres para “o garanhão” que era uma gabolice só. Com aquele gesto os peões ganhavam o direito de sentar-se á mesa do menino rico e com ele beber e comer sem se preocupar com a despesa.

Sabia-se de um único caso de um desses maridos se insurgir contra os assédios de Jejebinha. O final não foi feliz.

Ao perceber Terêncio se jogando para cima da mulher que tinha ido ao banheiro, o desavisado peão, novo no lugar, correu e em ato continuo deu um safanão no rapaz que se estatelou no chão.

- Respeita mulher de homem, cabra safado- vociferou o valente peão.

Jejebinha nada disse. Levantou-se, olhou para uma escoriação no braço esquerdo em função da queda. Fixou um olhar frio na direção do peão. Meneou com desdém a cabeça e de costas se afastou com o dedo em riste apontando para o casal.

Dois dias depois o peão foi encontrado morto boiando no açude da fazenda onde trabalhava. Falaram que ele tinha levado um choque de um dos poraquês que infestava aquele açude. O caso ficou por isso mesmo.

Se alguém quisesse saber o que de fato tinha ocorrido iria descobrir que sob a mira das armas dos seguranças de Terêncio o peão foi obrigado a beber três garrafas de cachaça, em seguida levado numa canoa até o meio da lagoa e lá foi obrigado a pular. Uma semana depois ninguém falava mais sobre o assunto.

Terêncio continuava com sua boa vida. Já torcia pela morte do pai para , assim, se apossar das terras, gado e tudo mais que o velho juntara durante toda a vida.

Um dia durante mais uma grande festa na cidade, lá estava Terêncio sentado á mesa com os " sócios " e suas respectivas mulheres. Ainda não sabia com qual delas ia amanhecer o dia.

A mesa estava farta. Arrematou todos os pernis, frango assado e galinha cheia que apareceram.

O forró corria solto, o salão de festa lotado. No meio do salão surge um casal ali nunca visto. O homem era alto, elegante, espadaúdo e com destreza fazia movimentos rápidos e sensuais com a parceira, uma puta loira poucos centímetros menor do que seu parceiro.

Nunca tinha visto uma mulher como aquela ali na cidade, avaliou Terêncio. Será se ela sabia quem era ele. Teria alguma chance? Não custava nada tentar. Ia esperar pelo momento certo para assedia-la. O momento certo surgiu quando percebeu que o parceiro da estonteante mulher tinha se afastado.

Largou a mesa e rapidamente se aproximou da mulher.

Não demorou muito o conquistador estava no fundo do clube no maior amasso com a loira. Nunca tinha beijado tanto na vida. As mãos de ambos se movimentavam habilmente. Jejebinha estava prestes a explodir de tanto tesão, quando a estranha disse para ele esperar um pouquinho que precisaria ir ao banheiro. Deu mais um amasso na mulher antes de deixa-la ir ao banheiro e ficou ali esperando.

O inesperado aconteceu. A mulher não voltou. Pela primeira vez desde que passara a frequentar festas ia amanhecer sem levar ninguém para dormir com ele. Voltou então ao salão de festas. Os amigos já tinham ido embora, os músicos guardavam os instrumentos. Vasculhou a área para ver se encontrava a mulher e nada.

-Aquela bandida me deixou na mão- pensou Jejeba em voz alta.

Terêncio pagou a conta, montou no cavalo e a caminho da sede da fazenda do pai se lembrou que bebeu muito, mas não comeu nada. O estômago ruía. Lembrou que um amigo havia falado de uma comidinha caseira feita com capricho num povoado ali perto. Rapidamente chegou ao local .

O rapaz sentou e enquanto aguardava a chegada do prato, reviu mentalmente os calientes momentos vividos com aquela estranha mulher. Ninguém soube informar quem, e de onde era aquele casal.

- Puta que pariu! Que mulher era aquela. Ia revolver toda a região para encontra la- pensou ele.

Terêncio dava a ultima colherada quando olhou para uma parede ao lado cheia de fotografias. Uma delas fez com que largasse o prato se levantasse para olhar de mais de perto.

Riu por dentro. O coração jovem bateu mais forte. Não tinha duvida, era ela, mesmo. Não precisaria mais percorrer a região para encontra-la

- Linda, não é- disse a dona do estabelecimento ante a admiração de Terêncio extasiado.

Linda? Não, maravilhosa! Quem é?

- Francisca Maria, minha única filha. Ela e o marido morreram dez anos atrás quando voltavam de uma festa lá no clube. Chovia muito. Um corisco caiu e matou os dois na hora.

Terêncio se engasgou com o copo d'água que sorvia ouvindo aquela mulher. Tudo nele se acelerou, sentiu uma pontada na cabeça e caiu desfalecido.

Quando acordou estava sem fala, a boca torta e sem os movimentos do lado direito do corpo.

Passa atualmente os dias sentado numa cadeira preguiçosa na varanda da fazenda do pai, ainda vivo, olhando na direção do nada.

Ás vezes Jejebinha esboça algo parecido com um sorriso. Talvez se lembrando das festas, das mulheres dos peões que costumava seduzir. E, daqueles momentos , atrás do clube , com aquela loira que lhe levara naquela noite a loucura.

elson araujo
Enviado por elson araujo em 19/04/2012
Reeditado em 20/04/2012
Código do texto: T3622077