O Anjo e a Pinguela

“...com fé se explica o inexplicável...”

Minha Vó portuguesa teve seu último filho (Tio Mané) já com 44 anos. As duas filhas ( Tia Dita e Tia Zulmira) tiveram filhos ao mesmo tempo. Misturavam primos, tios e netos quase todos com a mesma idade. Outro dado importante era o relacionamento (muito bom ) de meus avós (paternos) com os membros da família. Os laços familiares ficavam em segundo plano. Eram muito mais amigos e companheiros. Nas tarefas da roça (cultivavam alfafa, uma leguminosa usada como feno), nas caçadas, nas pescarias e até na participação dos bailes. Um campo de bocha fazia parte da festa nos dias de Domingo. Qualquer Santo sempre merecia um TERÇO rezado pela família, puxado pelo TIO SABINO, o mais carinhoso de quaisquer tios que eu tenha conhecido. Terço sempre na casa dos Avós, regado a um chocolate com água uma vez que a portuguesada não tinha hábito de beber leite. Pequenas querelas completavam a réstia dos sintomas de que ali reinava a paz e a harmonia.

O fato que narro hoje tudo tem a ver com a equilibrada dinâmica em que viviam. Numa tarde quente, resolveram fazer uma visita a uma vizinha que tinha dado à luz e morava num engenho do outro lado do Rio Capivara. E lá foram todos, 3 adultos( minhas tias e minha avó) mais 6 crianças. Todos saudáveis, mas extremamente “arteiros”. Conta-se que o diabo, além do Criador, que também sempre os acompanhava, o fazia ao largo, dando volta pela ponte a 1 km. acima, prá não levar culpa de algum indesejável fato ocorrido. Diziam até que, uma mulher quando ficava grávida, tinha duas preocupações: A hora do parto e a visita das Portuguesas.

A travessia sobre o Rio Capivara era feita por uma pinguela de Ipê com um corrimão de bambu a uma altura de mais ou menos 1 metro meio. E lá foram todos. O barulho era o mesmo de um bando de passarinhos ou de “um caminhão de jogador de bola”.

Depois de muita alegria e muita conversa deu-se o toque de reunir a “turminha da pesada”. Sentiu-se a falta do “Tavico”,( segundo filho da Tia Dita), um pirralho muito TUDO, de apenas três anos. E cadê o menino? Num surto de desespero, alguém teve a idéia de que ele podia ter voltado sozinho, uma vez que o Vô Português tinha ficado em casa. Mas e a travessia pela pinguela? Sozinho era impossível! Correram todos pra pinguela. Na areia, na cabeceira da travessia estava o rastro do menino que havia entrado. Atravessaram quase correndo prá ver o outro lado. O pequeno rastrinho tinha saído, como havia entrado. Ainda havia uma esperança. Que ele estivesse em casa. E estava. Em companhia do Vô português que já estava pronto pra ir ao encontro da Vó e das filhas, pra ver o que tinha acontecido, pelo fato do “Tavico” ter chegado desacompanhado. Alegria geral. Acompanhada de muito choro e muita emoção...

Perguntado como havia atravessado sozinho a pinguela, veio a misteriosa resposta: UMA MOÇA MUITO BONITA, VESTINDO UM LONGO VESTIDO BRANCO, PEGOU NA MINHA MÃO E ME AJUDOU ATRAVESSAR... (oldackmendes/18/04/012)

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 18/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3619246