ASSOMBRAÇÃO... DEFUNTA SONÂMBULA
Renato e Macela eram apaixonados desde os tempos de crianças, quando juntos freqüentaram a escola. Geralmente quando se ama de paixão o amor torna cego e os empecilhos ficam invisíveis obstruídos pela ótica do amor. Os pais de Marcela não aprovavam o namoro, por ser ele filho único e extremamente mimado pela mãe, embora fosse um bom rapaz. Na opinião dos pais Marcela teria que dividi-lo com a sogra, o que lhe traria sérios problemas no futuro.
Renato era de fato um bom partido, mas era filho único, não chegou a conhecer o pai um pracinha de guerra que perdeu a vida num campo de batalha. Tendo perdido o marido de forma tão inesperada e trágica ainda na flor da idade, era natural que ela,a esposa, se apegasse ao filho, o elo que ficou entre ela e o grande amor de sua vida. Convivendo com o espectro de sonhos não realizados, que o destino desviou de forma tão cruel, Renato era seu ponto de apoio, e a razão pela qual ela continuava vivendo, único refugio com o qual ela contava para amenizar a dor da saudade. A trágica lembrança era como uma sombra que a solidão projetou na sua alma. E o filho a luz que aquecia seu coração. Tudo isso era visto pelos pais de Marcela, que insistia em ignorar a realidade obstruída que era pelo grande amor que dominava seu coração.
Marcaram o casamento sem que ela cogitasse, se teriam ou não uma vida a dois com tranqüilidade. O que seria impossível, Renato era um eterno submisso aos cuidados da mãe. Marcela era filha de fazendeiro homem de posses e levava uma vida abastada na cidade. Estudou em bons colégios assim como Renato que também cursou administração de empresa e tinha uma boa remuneração no emprego, alem do que a mãe lhe proporcionava com o gordo vencimento que recebia do marido, ex- pracinha, agraciado que fora após a guerra, com uma alta patente concedida pela corporação militar a qual pertencera.
O que dependesse de finança o casal jamais teria problema. Mas a felicidade de um casal para ser completa compete exclusivamente a dois, três é demais. Como previram os pais de Marcela, ela ganhou de brinde uma sogra, e para completar, a velha era sonâmbula. Quando se casou com o jovem militar, já passava dos quarenta estava prestes a encerrar seu ciclo de fertilidade. O sonho de ter um filho era prioridade na vida do casal. Precavida ela se engravidasse logo após o casamento. Com o dobro da idade do marido, foi mais um motivo que contribuiu para o apego ao filho, ela tentava transferir para ele seu grande amor perdido tragicamente naquela maldita e desnecessária guerra provocada pela incoerência e o radicalismo de homens fanáticos sem pudor e sem coração.
Realizado o enlace, como haviam programado após a festa o casal viajaria em lua de mel para uma pousada, uma excelente estância hidromineral. Ao colocar sua mala no carro, Marcela notou uma mala diferente junta à mala do marido. – Amor porque esta mala, acaso não é aquela que conheço de tua mãe? – Olha meu bem não tenho nada a ver com isso, mas minha mãe sabe como é -, cismou que vai com a gente! - Como é? Deixe-me ver se estou entendendo, sua mãe vai com a gente?- Sim meu bem, mas não se preocupe estou levando um sonífero vou dar a ela sem que perceba, ela não vai nos perturbar! – Ah, bem disseram meus pais-, sou mesmo uma burra, eles tinham razão jamais eu deveria me casar com um bebezão! - Mas querida confie em mim amor vai dar tudo certo! – Com tua mãe no meu pé nunquinha sinto muito, mas só o divórcio me interessa, vá você faça sua lua de mel com ela.
Ao voltar à casa dos pais, em prantos, obviamente abalada, a mãe aconselhou Marcela a seguir em frente¬: - filha lute por seu amor siga em frente não perca a batalha no primeiro combate, acaso não houver lua de mel desta vez, outras oportunidades virão.
Seguindo a orientação da mãe, Marcela seguiu viagem junta ao marido e a sogra. Por sorte encontraram um apartamento vago, que sob protesto, a velha teve que ocupá-lo, uma vez que insistia em dormir num colchonete no chão ao lado do filho. Renato quis dar a mãe o sonífero conforme havia comentado com sua noiva, mas ela não permitiu dizendo que de qualquer forma ela era sua mãe e merecia ser respeitada. Sem alternativa a velha se recolheu aos aposentos a ela destinados. Apesar dos pesares o casal teve um pouco de privacidade durante sua noite de núpcias.
La pela madrugada quando a aurora sinalizava de leve a franja do infinito que se formavam alem do horizonte dando inicio ao colorido matinal; o casal acordou com o gerente do estabelecimento batendo à porta, insistente. Encontraram o corpo de uma mulher sem vida dentro da piscina, supostamente uma sonâmbula que assombrou o guarda noturno que afirmava veementemente ser uma defunta de mais de dois metros de altura, envolta por o lençol branco e arrastando suas vestes mortuárias passando diversas vezes pelo pátio e dando inúmeras voltas no entorno da piscina até desaparecer. Renato correu aos aposentos da mãe, ele estava vazio, e no colchão faltava o lençol.