Pequena Sociedade de Crianças
No meio do espaço urbano-campestre, havia um campinho.
Não era um campinho qualquer; na verdade era comum (para os crescidos da vila), mas não para mim e muito menos para os outros meus amiguinhos.
O campinho era visitado pelas mesmas crianças diariamente, quase sempre no mesmo horário. Tinha duas dúzias de crianças mais ou menos. As crianças fizeram de lá um lugar fora de série e genial.
Além de brincar e se divertir, elas formaram uma espécie de Sociedade do Campinho, onde construíram um confessionário. Lá puseram um gordinho, o pequeno Heitor, para ouvir as lamúrias alheias e aplicar-lhes a pena devida.
Todos os dias várias crianças confessavam seus pecados na pequena casinha.
Uma delas foi Júlia, a Sardenta.
- He-Heitor? – murmurou baixinho a pequena Júlia.
- Sim?
- Eu roubei o carrinho do Luiz, Heitor...Mas eu quero devolver e não consigo, ele nunca mais vai querer falar comigo se souber que fui eu, eu só fiz isso para provocá-lo, eu gosto tanto dele...
- Acalme-se, mulher! Devolva, peça desculpas e dê o dedo mindinho da paz. Olhando nos olhos dele, ouviu bem? Não devemos pegar os brinquedos alheios. Aqui somos todos irmãos. Além disso, quero que repita cem vezes “Casa suja, chão sujo”, como penitência.
- Valeu, cara. Farei isso.
Além do Confessionário de Heitor, havia a Bancada de Primeiros Socorros da Matilda, a Loja de Doces e Afins do Seu Giuseppe e a Casinha, onde as crianças faziam docinhos e outras comidinhas.
E assim, nossa sociedade caminhou feliz até crescermos.