Brejo das Almas

Caros amigos leitores; a historia descrita a seguir foi contada vária e várias vezes pelo meu avô em noites frias e chuvosas, enquanto ficávamos (eu e outras pessoas) sentados no sofá da sala tomando chá mate com biscoitinhos.

Bem tudo começa assim:

Quando meu avô ainda era criança, lá pelas décadas de 1930, morava em uma fazenda junto com seus pais e outros irmãos que não me recordo quantos, e tinham o habito de sair pra caçar. Sempre que podiam saiam com seus cachorros em noites de lua cheia mata adentro, sem medo e nenhum temor.

Como a história aqui narrada se passou em Minas Gerais, podemos até imaginar a natureza e crença daquelas pessoas da época. Em certa noite de lua cheia, meu bisavô decidiu sair pra caçar, e como a noite estava bem clara não viu necessidade de levar lampião ou coisa do tipo.

Meu avô que tinha seus 10 anos de idade insistiu muito que iria com eles, mas não foi aceito pelos homens que ali se preparavam pra caçada, dizendo que era melhor ele ficar em casa, pois estava frio e ele sofria de bronquite crônica.

Antes de saírem, foram avisados por uma velha senhora para não se aproximarem do Brejo das Almas, local onde se diziam viver almas amaldiçoadas, pessoas ruins e outros tipos de lendas.

Todos concordaram e saíram. Mas não andaram muito e um nevoeiro se formou, tapando a luz da lua e dificultando a caminhada dos caçadores entre a mata.

Meu bisavô até propôs que voltassem, ou parassem até o nevoeiro passar, mas os outros riram dele dizendo que a velha caduca tinha conseguido amedrontá-lo.

Logo os cachorros começaram a uivar e cheirar uma trilha que parecia de porco do mato, ou outro animal parecido. Os homens se prontificaram e começaram a seguir os cachorros, sem saber onde estavam indo.

Andaram alguns metros dentro da mata fechada e perceberam que os cavalos refugavam, parecendo avisar que o local não era seguro. Quando pararam para respirar um pouco, ouviram um gemido que vinha de frente com eles, alguns se assustaram no começo, mas um entre eles disse:

_Que nada, eu não tenho medo de alma penada, querem ver o que eu faço? Vem cá coisa de outro mundo, pula na garupa do meu cavalo, quero ver do que se trata.

Nesse momento ouviram o cavalo dele relinchar e se esforçar como se estivesse puxando um carro, enquanto os outros dispararam em direção da estrada, deixando o companheiro deles para trás.

Algum tempo depois o nevoeiro passou e todos voltaram para casa, o cavalo que carregou a alma penada nunca mais prestou, o dono sentia o frio da alma nas costas e não dormia de luz apagada, enquanto os outros aprenderam a respeitar o mundo dos mortos.

Meu avô não é homem de mentira, e sei que se perguntar, ele irá contar a mesma história 100 vezes sem alterar uma só palavra. Até a próxima história.

Fim

Ludemila Vital
Enviado por Ludemila Vital em 14/04/2012
Código do texto: T3613101
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