A INVEJOSA

A invejosa

Amélia trabalhava na mesma repartição pública por mais de vinte anos. Orlandina e Sebastiana eram suas amigas inseparáveis. Não havia segredo entre elas, até que certa manhã a Orlandina e a Sebastiana entraram no banheiro e conversavam abertamente, e não notaram que a Amélia já estava lá e escutava tudo. A Sebastiana dizia:

- Coitada da Amélia, mais este golpe. Que fatalidade! Ficar viúva pela terceira vez, não sei se ela vai aguentar.

Orlandina retrucava: - Que nada! Ela vai ganhar mais uma pensão. Ela não pode reclamar. A primeira pensão de um tenente-coronel, a segunda de um procurador da república, e a terceira de um rico negociante. Coitada sou eu, que nunca me casei e ainda estou longe de me aposentar.

Sebastiana ainda tentou avisar a Orlandina da presença da Amélia, mas não teve tempo. Amélia estava muito magoada com o que acabara de ouvir e respondeu com uma voz muito séria em tom zangado: - Orlandina, eu sabia que você era invejosa, só não sabia que invejava a desgraça alheia. Tem inveja que vou acumular mais uma pensão, mas não tem ideia da dor da perda. Também jamais vai saber. Mesmo que se casasse ao ficar viúva, ficaria pela primeira vez, já estou na terceira.

Saiu e não olhou para trás. Amélia estava realmente muito abalada, pois a morte de seu terceiro marido, fora um choque. Ele sofrera um infarto agudo do miocárdio e estava da cama de uma garota de programa.

Ela resolveu tirar uma licença-prêmio e foi passar umas férias com a filha mais velha, excursionando por alguns países da Europa. Na Grécia, conheceu em um grupo de amigos brasileiros, o simpático Edmundo. Um advogado famoso, que acabara de enviuvar. Alguns meses depois, Amélia casou-se pela quarta vez, e na cerimônia do seu casamento, lá estavam às amigas Orlandina e Sebastiana. Sebastiana estava feliz porque estava morando com um antigo namorado, mas a Orlandina continuava sozinha, cada vez mais solitária e rabugenta.

O antigo chefe o Evaristo aposentou-se e todos estavam curiosos para saber quem o sucederia. Orlandina já estava com ares de chefe. Mandava e desmandava nos colegas como se eles fossem seus subordinados. Nenhum deles dava muita atenção. Parecia que estavam adivinhando o que aconteceria. Finalmente saiu a nomeação no diário oficial. Para espanto da Orlandina, a chefe seria a Amélia.

Orlandina não se conformou com o sucesso da Amélia, e continuava falando por trás da colega de trabalho. Uma hora era sobre o seu mau gosto em vestir-se, outras vezes para relatar a quem quisesse ouvir onde a chefe passara o final de semana, quais eram as lojas de grife que ela comprava suas roupas, e detalhes na maioria das vezes inventados na intenção de chamar atenção sobre a sua pessoa.

Três longos anos se passaram, encontramos Amélia e Sebastiana, únicas colegas de Orlandina que assistiram ao seu funeral. Ela teve um fim triste. Um câncer agressivo e raro invadiu lhe os pulmões, cessando-lhe a vida em poucos meses. Sofreu muita dor, ficou muito desesperada com a proximidade da morte, e precisou de muita ajuda no plano espiritual para fazer a passagem serenamente. Amélia e Sebastiana, jamais a abandonaram, pois tinham um sentimento verdadeiro para com a desafortunada Orlandina.

Invejou, odiou margou a raiva de ver a felicidade estampada nos rostos das pessoas próximas, e esqueceu-se de si mesma de aproveitar sua vida como poderia tê-lo feito. Pessoas como a Orlandina com baixa autoestima, atraem para si os maiores padecimentos, pois não conhecem o mais simples gesto de amor, condição básica para ser feliz consigo mesmo. Uma boa dose de amor próprio, à Criação e a vida, sopro divino que habita em cada um de nós, é necessário para seguir adiante e exercitar o amor maior, que é o amor ao próximo.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 13/04/2012
Código do texto: T3611385
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