O ULTIMO BOI DE CARRO

Dizem que os carreiros são indivíduos as vezes um tanto quanto brutos no trato com as pessoas, acostumados com a rusticidade da lida com os bois, acabam transferindo certos atos e palavras utilizados no seu dia a dia no campo para o relacionamento com os seres humanos e isso as vezes o torna indesejável no convívio social, isso porem não os caracteriza como pessoas de má índole, simplesmente tem o seu jeito de ser, podem parecer estúpidos mas tratam com carinho seus animais, não deixando faltar nada e se por um motivo o outros alguns de seus bois adoecem, tratam com zelo e todo cuidado não somente visando o trabalho que em tais circunstancias deixam de executar, mas sobretudo o bem estar do bicho.

Assim afigura do carreiro, quase extinto nos dias atuais, merecem ser lembrados não pela rusticidade no convívio social e tampouco pela generosidade pelos animais mas pela sua capacidade de dominar estes gigantes que no passado foram muita utilizado como meio de transportes e ferramenta de trabalho no campo puxando enormes e pesados arados fofeando a terra para que o plantio fosse realizado.

Belarmino era um destes carreiros, apesar de rude e simplório, tinha um belo relacionamento com seus doze bois de carro, conhecia um a um nos mínimos detalhes, sabia o que poderia por na guia, o que ia no pé, o que rendia mais em determinados serviços, e conversava com eles como se estivesse falando com uma outra pessoa e por incrível que pareça, os bois também entendiam Belarmino e eram sempre solícitos ao seu comando, obedientes e carinhosos para com o companheiro de trabalho.

O progresso foi chegando lentamente e a utilidade dos bois foi aos poucos dando lugar a novas tecnologias, primeiro os muares, depois o trator e assim por diante. Também os bois de Belarmino foram envelhecendo e por mais carinho que o bondoso carreiro dedicasse aos animais, eles não eram de sua propriedade, um rico fazendeiro se dava ao orgulho de ser o dono dos famosos bois de Belarmino, mas com o passar do tempo, vendo que os bois já não rendiam mais como dantes e que estavam envelhecendo, foi aos poucos desfazendo dos animais, vendendo-os ao abatedouro da cidade, alegando sobretudo que não poderia ter prejuízos.

Belarmino assistia tudo com dor no coração mas não podia fazer nada, os animais já estavam velhos e ele também já não era nenhum jovem, o tempo havia passado, no transcorrer dos anos procurou dedicar toda atenção aos seus bichos e não procurou cuidar de si mesmo, não casou, não constituiu família, os seus entes mais próximos também já haviam partido do plano terreno e estava só o pobre homem, contando com a misericórdia primeiramente de Deus e depois do patrão que apesar de não ter nenhum parentesco o estimava como irmão.

Certo dia Belarmino recebeu a noticia de que o patrão havia vendido os dois últimos bois de sua junta, , haja visto que já não tinha trabalho a realizar, ante o prejuízo de perder o boi no pasto pela idade e a opção de emborcar nas algibeiras alguns réis a mais o patrão optou pela segunda alternativa, o velho carreiro ficou muito triste quando viu os bois sendo engaiolados num caminhão rumo ao matadouro, reprimiu suas lagrimas, mais uma vez, com o coração estraçalhado como que transpassado por um lança, saiu sem rumo certo, caminhou pelas pastagens verdejante, o dia parecia como que nebuloso, a tardinha recolheu no seu humilde casebre para o repouso e só no dia seguinte, no almoço deram falta do carreiro que naquele dia não compareceu nem para o seu desjejum, o casebre estava fechado, não houve resposta ao chamado do patrão, arrobaram a porta e encontram Belarmino na cama que sem vida, dormia o sono dos justos.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 28/03/2012
Código do texto: T3581837
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.