O Homem da Cidade e o Caipira
"... nem sempre quem tem boca vai a Roma...”
Fernando Henrique Cardoso foi um dos mais importantes homens públicos que a História do Brasil conheceu. É considerado um homem da cidade. Filho de militares, sociólogo e intelectual. Deve ser por causa destes dados biográficos que foi mal interpretado quando, em dado momento, disse em discurso que o povo brasileiro era caipira. Como é da natureza da oposição ficar eufórica quando o “circo pega fogo”, foi uma prato cheio. O importante era baixar suas ações de popularidade. Quis, a oposição que o povo brasileiro tivesse sido ofendido. Mas ao que tudo indica, ele estava certo. Com sabedoria popular (própria dos caipiras), “não deu bola” e deixou o dito pelo não dito. Mas a richa entre os homens do campo e os da cidade esteve sempre em alta. O comportamento do caipira quando ia à cidade grande sempre era motivo de chacota (comprava bilhetes premiados, viadutos, estradas de ferro, máquinas de fazer dinheiro, etc.). Quando se tratava do morador urbano visitando o sertão também não se deixava por menos. Quantos “Caipiras” que sabemos ter pego gentilmente o compadre da cidade pelo braço para melhor mostrar-lhe uma frondosa copa de um Ipê florido, tendo-o colocado em cima de um formigueiro “Lava-Pés”? Ou então mandando o companheiro da cidade pela trilha em sua frente e de repente pedindo-lhe para parar (embaixo duma ramada carregada de gotas de orvalho por um chuvisqueiro de verão) e com um brusco puxão dando um fenomenal banho de orvalho no desajeitado visitante. Mostrar as delicias do sabor da Guabiroba madura, no pé da famosa fruta silvestre. Oferecer o maior pé e mais bem carregado das delícias. E de repente sugerir, portando um pequena forquilha, que sacuda o arbusto para que as passadas de madura caiam. E para o pavor do incauto, uma caixa de marimbondos, cujo contingente que já estava de prontidão, faz um ataque em massa contra o invasor...
O “Causo” a seguir, contado pelo João, meu irmão, conhecido na capital paulista como “Caipira”, narra o embate entre estes dois heróis. De um lado um prepotente jovem empresário, pilotando sua luxuosa Hilux. De outro um humilde campônio (mas só na aparência) mascando um fiapo de capim e sentado numa baixa porteira de paus roliços, numa destas encruzilhadas com saídas múltiplas. E como de costume nem uma placa pra ajudar. O piloto, até mesmo sem cumprimentar, foi logo dizendo que estava perdido e se "o amigo capiau” poderia lhe ajudar? A resposta foi apenas um mudo sinal de cabeça que universalmente conhecemos como “sim”... Pode me dizer se esta estrada sai em Piracicaba? “ Sabe qui num sei?”. “E esta vai pra Sta. Barbara d’Oeste?” “...num sei, não!” E aquela vai pra Capivari? “... num tô sabeno, não...” “Mas esta aqui sai em Indaiatuba?” “... sei lá, mais acho qui não...” Neste ponto do diálogo o fidalgo perdeu definitivamente a postura urbana e mandou ver: “Ô... CAIPIRA!!! VOCÊ NÃO SABE NADA???”. E o matuto, imperturbável e em tom bem baixo, quase um cochicho: “...é memo!!! Mais eu num tô pirdido...” (oldack/04/02/012).