Confrontos

O representante comercial que tem um conhecimento técnico mais amplo, se depara com situações incríveis e tem que estar sempre atento, para não perder a oportunidade de vender, por não saber interpretar em muitos casos, o que o cliente deseja realmente. Na área textil (meu ramo) me deparo sempre com algumas questões interessantes: Senão vejamos:

Provar por exemplo que tricoline com com "lycra" e tricoline com elastano, é a mesma coisa, técnicamente falando, é uma missão dificil. E tem gente que insiste: Eu quero a com elastano, pois ela é melhor do que essa com "lycra". Pressupostamente (isso nem sempre corresponde à verdade) a marca que identifica a materia prima usada, ou o componente do produto, seria ou teria de ou a melhor qualidade, mas nesse caso, não, pelo menos em minha opinião e que me perdoe a Rhodia, detentora da marca. Acredite se quiser.

E mais, se você fabrica (do ponto de vista técnico) uma popeline e usar essa nomenclatura, não vai vender. Pra vender, você tem que dizer que é uma tricoline. Quer dizer o mercado eliminou impiedosamente a terminologia popeline que é pra quem entende um tecido intermediário entre a famosa "chita" e o tricoline um tecido mais nobre com fio 40 ou mais fino, para camisaria masculina, geralmente.

E se o cliente telefonar e pedir aquele "caqui" da cartela, mesmo sabendo que a sua cartela não tem propriamente um caqui, fique na sua, desconverse, peça ao cliente para lhe dar o código numerico e mande a cor que ele pediu (um beje médio), mas não o contrarie. Ele sempre tem razão.

E quando ele pede o Cotton, você nem precisa pestanejar, a palavra e a composição com a lycra, já estão embutidas. Na verdade, Cotton uma palavra inglesa, significa ao pé da letra 100% algodão. Durmam portanto com um barulho desses.

Evidente, fica a ressalva aqui, antes que eu me esqueça, que estou falando de pequenos clientes, com pouca experiência no ramo, daquele tipo que acha que porque não recebeu um boleto bancário, é porque a fábrica "é desorganizada".

E o representante, que faz questão de executar o "meio de campo" direitinho, ou como dizem os acadêmicos "fazer o trabalho pós-venda" de forma correta, fica no meio como um marisco, batendo entre os rochedos e o mar.

E aí so pra finalizar, semana passada, tive um cliente novo que me ligou e perguntou: Você tem anarruga.- Eu disse: Tenho e muito bonita, com estampas alegres, coloridas, desenhos não muito pequeninos e bem no estilo infantis, etc. - Peguei o endereço e fui lá: Quando abri o book e mostrei a pagina de toque: Ele leu: CHIFFON. Ele disse: É mas esse aqui é chiffon, eu quero é o anarruga. Foi um custo, pra eu convencê-lo de que era aquele tecido mesmo que ele queria e que havia comprado no distribuidor. Por sorte minha eu tinha um encarte em papel no desenho que ele tinha um retalho e provei que era o mesmo tecido.

Mesmo assim, comprou desconfiado. Acreditem se quiser.

E assim por diante, poderemos relatar confusões de nomes por exemplo entre o cotelê e o fustão (sinônimos). Tem gente que confunde brim cotelê, com veludo cotelê. E pra ficar mais engraçado ainda, um supermercado aqui da região, de porte grande, coloca algumas lindas bermudas e na placa:

"Bermudas magnetadas".

Fiquei estupefato, chamei um desses coordenadores que ficam passeando pelos corredores e lhe ensinei. A cara do sujeito, não foi muito boa, mas no dia seguinte, passei por lá, a placa era outra, mas não se arriscaram com a palavra, ou não acreditaram totalmente em mim (rs).

Querem mais? Dia desses li uma reportagem, ou matéria paga, sei lá, de uma dessas griffes nacionais e que dizia textualmente:

"Os estilistas encontraram uma maneira de harmonizar o Jeans, as malhas e os tecidos planos". Sinal de que a igonorância não reside apenas em alguns clientes pequenos e também no meio jornalistico formado ou forjado nas coxas, nessas universidades que proliferam no Brasil, como proliferam igrejinhas em esquinas.

(sic) My God. Fazer o que?

E se você quiser me pedir uns 2.000 ms de tricoline xadrezes sortidos (miscelânea) não se assuste com a ressalva: "peça para a fábrica não mandar estampados". Não tente explicar que o xadrez além de fio tinto, pode ser também estampado.

E, pasmem, eu já atendi pedido de um cliente que me pediu "morcelandia" (ele quis dizer miscelânea). Nada a ver, mas dia desses recebi uma critica contundente de um colega aqui (e com muita razão) acusando-me de não saber as técnicas para se montar um "haicai". Cai na real, concordei com ele, descobri que a humildade diante do insofismável, é o melhor remédio, mas mesmo me rendendo, me consolo por saber que também eu, posso ser um critico implacável naquilo que me concerne.

Por hoje...

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Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 18/03/2012
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