AS QUERIDAS DO BAIRRO
As queridas do bairro
Elas eram duas irmãs inseparáveis. Estavam presentes em todos os eventos do bairro. E tornaram-se conhecidas como as “queridas de M...”. Era engraçado o contraste entre elas. Uma era baixinha, miudinha, usava um cabelo esticadinho, com uma franjinha que lhe dava um eterno ar de menina antes dos treze anos, em sua eterna bolsinha pequena, de pequena corrente que carregava nas mãos, não podia faltar um bom estojo com pó de arroz, que constantemente usava para retocar o rosto. Ela tinha uma pinta enorme acima do lábio superior no lado esquerdo, e tinha uma pinta menor dentro do branco dos olhos do mesmo lado, o que a tornava irreconhecível, fosse qual fosse, a vestimenta que usasse. A outra era bem mais alta bem feita de corpo e usava o cabelo em cachos muito bem elaborados, após ficarem horas com as mechas enroladas em rolinhos bem pequenos, e a cabeça coberta por um lenço de três pontas.
As duas ainda estavam solteiras, apesar de já terem passado dos trinta. Com o passar dos anos, começaram a ficar famosas, e os outros a conheciam como “enferrujadas”, pois não lhes agradara nenhum rapaz que se apresentava. Um era pobre demais, o outro gordo, o outro fumava, e uma delas detestava fumaça de cigarro, o outro falava alto, e com tantos defeitos que encontravam nos pretendentes, após quinze dias, estavam sozinhas de novo. Ainda pertenciam a uma geração em que as mulheres não precisavam trabalhar. O pai delas era coronel reformado do Exército, e ao morrer garantiu-lhes o sustento com uma boa pensão, que compartilhavam com a mãe.
Marilda a mais velha ao completar quarenta anos, começou a desesperar-se com sua solteirice, e resolveu apanhar o primeiro pretendente que lhe caísse na rede. Voltou a frequentar a igreja, na intenção de encontrar alguém decente, como afirmava. Encontrou, o Francisco, rapaz de família próspera, seu falecido pai, e irmãos eram donos de uma cadeia de lojas por todo o bairro. Ele era meio estranho, alto, curvado, falava pouco, olhar cabisbaixo. Era tímido, mas debaixo de tanta timidez ardia um vulcão de desejos. Era dez anos mais moço que a Marilda, e encantou-se quando percebeu que ela lhe olhava abertamente, dando-lhe toda a abertura para que ele pudesse aproximar-se.
Do namoro para o casamento, foi um piscar de olhos, e a família de Francisco, adorava a Marilda, pois ela conseguira um verdadeiro milagre, o Francisco, acanhado como era jamais tinha levado uma namorada em casa. Marilda teve dois lindos meninos no primeiro parto.
A irmã Marizete agora sem companhia, quase não ia mais aos eventos sociais do bairro, e ficava em casa com a mãe muito doente. Reclamava da falta de companhia para sair, e resolveu o problema rapidamente. A irmã morava na mesma rua, e ela quando tinha um tempinho, passava por lá para levar Fernando e Frederico a passeio no carrinho. Ela ficava feliz com os sobrinhos. Eles eram muito bonitos. Marilda adorava as folgas que a irmã lhe proporcionava, pois andava muito enjoada com os sinais da segunda gravidez e Marizete em seus passeios com os meninos, conquistara um novo admirador. Ele tinha uma loja de frutas no mercado principal do bairro. Com a desculpa de comprar frutas para a vitamina e o suco dos sobrinhos, Marizete ia lá todos os dias, e deixara o coração do português batendo cada vez mais forte. Eles trocaram alianças rapidamente, pois a Marizete estava grávida de três meses, e não queria fazer feio no altar.
Dos bons tempos, de solteira, elas guardavam muitas lembranças, todavia quando elas passavam as bocas maldosas, sempre cochichavam baixinho, soltando palavras e expressões do tipo: - “Lá vai, a “queridinha” do bairro, a “baixinha dadeira”, “a gostosona do muro do armazém”“.