EXPRESSO DA FOLIA
A tuma do Zé Luis estava mesmo atrasada. Não foi tanta surpresa descobrir que as passagens aéreas para Salvador estavam esgotadas, A culpa era todos e de ninguém, desde outubro decidiram passar o Carnaval em Salvador, mas o grupo de oito foliões adiava sempre a decisão. Deu no que deu, a única alternativa era comprar passagens de ônibus. Depois de muita discussão, reunidos no bar na beira da praia, decidiram ir ge ônibus. Na quinta-feira que antecedeu o Carnavala, embarcaram. Para eles, parecia que o ônibus tinha asas e voava em paragens maravilhosas, estavam tão felizes saboreando antecipadamene a folia que não deram conta, do se passava ao redor. Anoitecera e o ônibus derrapou em uma curva, virou várias vezes rolando pela ribanceira. Gritos desesperados, e o barulho da lataria do ônibus rolando, rolando, rolando. De repente, fez-se um silêncio assustador, anunciando as súbitas partidas de alguns passageiros, enquanto isso, outros passageiros ainda conscientes, apesar de feridos e desesperados, assistiam a tudo sem poder mover um dedo, a maioria estava presa nas ferragens do que restara do ônibus.
Zé Luis não sabia se estava vivo ou morto, junto com ele a namorada Ana e o melhor amigo Lúcio, dançaram, pularame curtiram a noite inteira junto com outros foliões, mascarados, fantasiados de negro. Uns pareciam morcegos, com suas máscaras horríveis, outros pareciam diabos com capas pretas, máscaras, chifres e pés retorcidos. A batucada louca não deixava perceber a letras das músicas que entoavam. Era um baile de Carnaval muito apimentado. Sé Luis reclamava para Ana que estava cansado e deveriam parar, mas a multidão fantasiada os empurrava para lá e para cá. De repente, Zé luis, percebeu que já não estava no imenso salão brincando Carnaval. Encontrava-se em um local mais reservado, deitado em uma enorme cama, rodeado por mulheres e homens chifrudos, todos nus, rodeando seu corpo. Todos sorriam com muita vol[upia e parecia que iriam comê-lo vivo, Uma voz firme ressoou no meio do círculo que se fechava ao redor do pobre rapaz: - Saiam todos ele é meu. Zé Luis olhou para o lado e viu a figura mais horripilante que jamais imaginara.
Era um homem, com corpo de mulher, tinha o peito desnudo e ostentava três seios murchos e caídos. A genitália estava coberta por uma espécie de tangam as pernas eram peludas e curtas. Os olhos estavam vermelhos injetados de sangue a boca possuía dentes muito finos e afiados, o nariz era uma espécie de fochinho de porco. O rosto estava coberto por uma barba espessa, os cabelos eram compridos, lisos e dourados. Possuía pequenos cornos e as mãos eram finas e delicadas. Zé Luis assustado tremia da cabeça aos pés e urrava de medo, horror e desespero. Seu corpo todo gelado começou a esquentar-se e debater-se desesperadamente para livrar-se do beijo nojento daquela criatura. Sentia que ela sugava-lhe a vida, e parecia que ia devorar sua alma. Ele não sabia mais o que fazer, e desistiu de lutar entregando-se a uma espécie de preguiça mortal. Os médicos já tinham feito tudo o que podiam para reanimá-lom até que desistiram e saíram da sala de emergência.
No noticiário do Sábado de Carnaval, o retrato de Zé Luis e de todos os seus companheiros de viagem aparecia de vez em quando, enquanto na casa das vítimas da tragédia, os familiares se desesperavam com a dor das perdas repentinas. Uma moça morena de cabelos lisos e sorriso tímido agradecia a Deus por ter escapado. Já tinha comprado até a passagem de ônibus para viajar junto com os amigos, porém desistira, seu chefe, dois dias antes, negara-lhe os dias de férias, alegando que tinha muito serviço no escritório, etc. e tal, que seria impossível ela ausentar-se no período após o Carnaval.