O Pecado

Magdalena era uma moça direita aos olhos de todos. Fervorosa em sua fé, vinha frequentando a igreja havia alguns meses. Tinha quinze anos e morava com os pais em uma casinha simples, próxima aos seus avós maternos — mudara-se para aquele lugar porque sua mãe havia sido a única filha voluntária a cuidar deles em seus prováveis últimos dias, doentes como estavam. Menina calada e estudiosa, não era intrigada de ninguém, mas tinha lá seus segredos. Certa manhã, quase morreu do coração quando, ao entrar no banheiro para escovar os dentes, notou com grande susto e horror que todas as escovas de dente estavam diferentes: em suas cabeças, no lugar das cerdas, havia saliências arredondadas como as extremidades de um pepino. Ela, tremendo e achando que ainda estava dormindo, tomou uma das escovas em suas mãos para olhar mais de perto e...

— Sangue de Cristo tem poder! — gritou desesperada, largando a escova no chão com o coração saindo pela boca. — Está amarrado em nome de Jesus!

As escovas haviam mudado, não importava o quanto ela esfregasse os olhos. Estavam com cabeças de pênis!

Então Magdalena saiu zonza pela casa, orando, pedindo ao Senhor que lhe limpasse as vistas e o juízo. Aquilo, pensou ela, só podia ser obra de Satanás! Então sua mãe chegou do mercado; havia saído muito cedo, pois seu marido, varão valoroso, precisaria tomar café e faltavam algumas coisas. Irmã Conceição colocou as sacolas de compras sobre a mesa da cozinha, onde encontrou a filha branca da cor da geladeira, e quis saber o que estava acontecendo.

— Não, mãe, eu estou bem. Só dormi mal e tive um pesadelo tão tenebroso que só a graça!

Ver sua mãe a acalmou um pouco, de fato. Mas Magdalena não contava que, ao olhar displicentemente para a sacola que ela trouxera, veria não um, mas dezesseis pênis enormes e amarelos com pintinhas pretas, presos pela base em uma haste esverdeada tal qual bananas em uma penca.

— Que é isso, minha mãe? — perguntou Magdalena, pondo-se de pé de um salto e quase derrubando a cadeira. — Que imundice é essa que a senhora comprou?

— Há-há-há-há-há! — gargalhou irmã Conceição gostosamente. — Vai dizer que você não sabe o que é isso, Magdalena? — Ela não conseguiu falar nada. Ficou olhando, boquiaberta, enquanto sua mãe puxava uma das rolas amarelas da sacola e levava em direção à boca. — Minha filha, isso aqui é bom demais, é um presente do Senhor pra nós!

— Não pode ser! Está repreendido!

Aquilo não seria suportável para Magdalena, que antes de ver a própria mãe fazer um boquete em um pau sem dono (sim, ela conhecia essas palavras de gente que não aceitava Jesus), fechou os olhos e saiu correndo dali. Foi pra rua. Talvez Satanás houvesse amaldiçoado apenas a sua casa, esperava. Mas tudo só piorou quando ela saiu: Viu pênis no lugar de celas de bicicleta, notou que todos os cachorros e cavalos que apareceram tinham seus falos inchados e de fora, passou por um campo de futebol onde todos os jogadores tinham volumes salientes brotando de seus calções, viu uma senhora usando um vestido estampado com vários pênis coloridos e, para fazê-la voltar para casa de tão horrorizada que estava, avistou o pastor de sua congregação se aproximando com uma gravata de formato pavoroso em volta do pescoço.

Minutos depois, trancada em seu quarto, viu os próprios dedos com glandes ao invés das unhas e algo como fogo ardia em seu peito. Não sabendo mais o que fazer, começou a orar apertando os olhos fechados e só parou quando pegou no sono. À noite, sua mãe foi lhe chamar para ir à igreja — momento que ela aguardou desesperadamente o dia inteiro. Chegando lá, encontrou Luizinho, o filho da missionária Marcela, com quem Magdalena estava decidida a falar antes que começasse o culto.

— Oi, Leninha — ele disse.

— Meu nome é Magdalena, você me respeite.

— Que foi? — Luizinho tentou alisar o cabelo de Magdalena, mas ela afastou sua mão com um bofete. — Você está brava comigo assim por quê?

— Olhe, você nunca mais me peça pra fazer aquilo em você, viu? NUNCA MAIS!

Gilson Oaken
Enviado por Gilson Oaken em 03/03/2012
Código do texto: T3532127
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