Mário Francisco, o matador.
Já tinha matado três. O difícil foi só a primeira vez, naquele final de tarde quente de Agosto. Foram cinco horas de tocaia até a vítima aparecer.
O nível de adrenalina subiu, o coração disparou, o suor aumentou. Uma gota daquele liquido salgado caiu no olho esquerdo atrapalhando por alguns instantes a mira. Era sua primeira encomenda e, errar aquele tiro poderia atrapalhar sua carreira, inspirada no avô paterno. Queria ser tão bom quanto ele. Limpou o olho com a manga da camisa e logo voltou a se concentrar no seu alvo.
Do alto de uma barriguda, árvore tipica daquele pedaço do país, onde estava desde o início da tarde, se ajeitou com a espingarda, uma calibre 20, e apertou o gatilho. A vítima, sem nenhuma chance de defesa, foi atingida no peito e morreu imediatamente. Pronto! Sua primeira empreitada tinha dado certo. O patrão, dono da fazenda, ia gostar e pagar bem.
Depois daquela primeira experiência, com a fama alcançada, não demorou muito veio a segunda. Aquela foi mais fácil. O tiro foi na cabeça e não teve nada de nervosismo.
Na terceira vez, autoconfiante, já considerava aquela atividade uma rotina. Começou a cobrar caro pelos seus serviços. Já tinha trocado a 20 por um rifle automático.
Mário Francisco estava ali pronto para sua quarta empreitada. Seria seu trabalho mais importante. O alvo já tinha feito várias vítimas na região e num vacilo qualquer os papéis poderiam se inverter. Mário sentiu um friozinho na barriga.
- Não posso decepcionar quem encomendou esse serviço. O cara já pagou a metade e disse que só me dará a outra se eu levar uma prova de que não houve erro. Acho que vou levar a cabeça, assim ele me paga sem qualquer dúvida”- pensou Mário Francisco.
O danado é que tava demorando demais. Nos levantamentos realizados antes, a vítima passaria por ali às 18 horas e já estava pertinho das 19 h.
Inquieto, com a demora , Mário Francisco continuou ali esperando. Se errasse daquela vez sua fama ia por água abaixo e não apareceria mais nenhuma encomenda e na vida só sabia fazer aquilo.
Aproximava-se das 20 horas quando o matador ouviu um barulho no meio do mato e , um vulto chegando cada vez mais perto do local onde estava.
– É agora! Pensou ele, já imaginando dali a poucas horas entregando a cabeça da vítima ao autor da encomenda. Ia ganhar um bom dinheiro; muito mais do que das outras vezes.
Acomodou-se na tocaia. Esperou mais um pouquinho até ter certeza da mira. Aguardou a vítima chegar mais perto, já que só contava com claro da lua como ajuda, até finalmente poder apertar o gatilho do rifle.
Um único e certeiro disparo acabou com a vida da onça pintada que há meses vinha comendo os bezerros nas fazendas da região.
Mário Francisco, o cara, iria continuar a ser o maior matador de onças daquelas bandas do Brasil.