O Grande Empresário e o Analfabeto
“... o rio atinge seu objetivo porque sabe contornar obstáculos...”
Conforme o prometido aqui está o “Velho Escriba de Causos”. Um dias destes, minha filha caçula ( A última Estrela Cadente) me enviou um E-mail de Massa com a seguinte recomendação: Recebi essa correspondência e como se trata de um “Causo”, achei que você podia se interessar... Fiquei aguardando na “moita” como é do meu feitio. E me interessei. No entanto, peço-lhe desculpas, mas terei que fazer algumas adaptações como é próprio do contador de “Causos”. Como cabe a quem acusa o ônus da prova usarei nomes fictícios ou então partirei para a omissão.
Ettore Bragantinni era filho de imigrante italiano como outro qualquer. A família veio para o Brasil, no início do século passado, procurar trabalho pois as coisas lá para as bandas da Europa não estavam nada fáceis. Depois de muitos anos trabalhando na lavoura perceberam que tinham apenas mudado de Continente. Resolveram sair da roça e ir para cidade. Conseguiram se mudar para um lugarejo enfiado nos sertões do interior do Rio Grande do Sul. O serviço que Ettore conseguiu foi de porteiro de um prostíbulo. E assim foi tocando a vida. Sempre dizia para a companheira: “É melhor pingar do que secar”...
Certa ocasião apareceu por lá um rapaz que havia sido demitido de seu trabalho na cidade grande e de posse de considerável quantia referente à uma indenização trabalhista. Com esse dinheiro comprou o prostíbulo. Portando idéias arrojadas, como é próprio dos jovens, resolveu modernizar o estabelecimento. Fez uma reunião com todos os funcionários para passar as novas ordens. Ao porteiro Ettore, cabia controlar o movimento da clientela, sempre munido do sigilo exigido em tal tarefa. Deveria anotar número de fregueses, idade aproximada e principalmente uma análise crítica do atendimento. Se tinha ficado satisfeito. O que gostaria que mudasse, e por ai afora... Tudo deveria constar de relatório sucinto feito e assinado pelo nosso herói. Ficou preocupado e comunicou ao empresário que não podia receber tal incumbência uma vez que era analfabeto. Diante de tal situação foi demitido. Lembrou-se então que no prostíbulo consertava cadeiras e mesas. Com o pouco que recebeu de indenização foi à cidade vizinha, em lombo de mula por dois dias, comprar um martelo e pregos. Um vizinho sabendo que ele possuía tal ferramenta foi logo pedindo emprestado. Como emprestar se preciso da ferramenta para trabalhar!!! O companheiro propõe então que pagaria os dois dias de serviço para que ele comprasse outra e lhe vendesse aquela. Aceitou e fez uma compra um pouco maior e passou atender a clientela. O negócio foi crescendo e logo um barracão foi construído com vitrines e tudo. Tornou-se referência regional na venda de ferragens. Daí passou a forjar suas próprias ferramentas e já contava com inúmeros funcionários. Sabedor das dificuldades no campo da Educação resolveu construir e manter uma escola de alto nível no povoado.
No dia da inauguração, com a presença de autoridades, foi muito elogiado pelo Prefeito que lhe pediu o favor que assinasse a placa de inauguração, em sua homenagem. A resposta foi rápida: “Não posso! SOU ANALFABETO. Analfabeto??? Como assim? Indaga o Alcaide. Sim meu caro Senhor! SE EU NÃO FOSSE ANALFABETO AINDA SERIA, HOJE, PORTEIRO DO PROSTÍBULO. E foi assim que nasceu a empresa, referência nacional em ferramentas. A BRAGANTINNI. (Oldack/21/11/010)