ZÉ DE AMBRÓSIO

Zé de Ambrósio nasceu e cresceu no lugarejo Tapera da Onça, sertão nordestino, lá onde Judas perdeu as botas. Poucos sabiam que seu verdadeiro nome era José Vieira de Jesus. O chamavam de Zé de Ambrósio por causa de seu pai, Ambrósio de Jesus, falecido quando Zé ainda era criança.

Morava com a mãe, Dona Felisberta, duas irmãs e um irmão. Zé de Ambrósio era o caçula, a “raspa do tacho” como Dona Felisberta costumava dizer.

Dona Felisberta, que Deus a tenha, era uma mulher séria. Criara os quatro filhos vendendo doces pra molecada da única escola do lugarejo. Pra completar a renda lavava roupas dos fazendeiros da região. Apesar de ter ficado viúva ainda nova, nunca quis casar-se novamente, nem aceitava “liberdade” de quem quer que fosse. Todos a respeitavam no lugarejo.

Mas o seu filho caçula lhe dava muitas dores de cabeça. Zé de Ambrósio sempre aprontava. Queixas e mais queixas chegavam à sua casa.

Certa vez Zé de Ambrósio quase matou de susto a professora, Dona Maria das Neves, colocando um sapo cururu na sua bolsa. Outro dia acertou um colega com uma lata de óleo de soja vazia, causando-lhe um ferimento no rosto. Era comum ver Dona Felisberta de palmatória na mão para aplicar-lhe o merecido castigo por causa de suas traquinagens.

Mas apesar de suas “artes” Zé de Ambrósio era muito medroso. Era só ouvir falar em assombração que ia correndo pra casa se enfiar debaixo da cama.

Os outros moleques do lugarejo descobriram seu ponto fraco e começaram a usar como arma para se livrarem de suas maldades.

Do que ele tinha mais medo era de alma penada. Bastava alguém dizer que uma alma do outro mundo viria lhe pegar, para ele sair correndo.

Numa certa noite Zé de Ambrósio resolveu aprontar uma das suas. Lá pras bandas da estrada que dava para a fazenda do Coronel Vicente, passava um homem, que na escuridão era impossível identificá-lo.

Zé de Ambrósio resolveu dar-lhe um susto. Escondeu-se atrás de uma moita e quando este se aproximou saiu do esconderijo, e fingindo estar com uma espingarda, gritou:

- Parado. Vai passando a grana senão eu atiro. O homem, evangélico fervoroso, ainda guardava na mente as palavras que ouvira no sermão dominical e no susto falou:

- SE EU AINDA FOSSE DO MUNDO, NINGUÉM SE INCOMODAVA COMIGO. COMO EU NÃO SOU MAIS DO MUNDO...

Zé de Ambrósio nem esperou para a conclusão da frase. Saiu em disparada pra casa pedindo socorro, pois estivera cara a cara com uma alma do além. No dia seguinte espalhou no povoado que na estrada que dá para a fazenda do coronel Vicente a alma de algum infeliz vagava por lá.

Dizem que depois do susto Zé de Ambrósio deixou de aprontar.