REALIZADO O SONHO DE CARNAVAL... ELA SE MATOU

No passado houve um combate acirrado entre a igreja e o movimento carnavalesco. Os líderes religiosos combatiam o carnaval com intensa rivalidade acusando-o de ser um movimento diabólico e profano responsável por atirar milhares de mulheres jovens e adolescentes no abismo da prostituição.Este fator criou uma grande e resistente barreira cultural entre a expanção do modernismo e a sociedade conservadora,que chegou a ser até certo ponto preconceituosa. A virgindade era visto como um bem moral sagrado e intocável que jamais deveria ser rompida antes do casamento. A mulher teria que preservar sua virgindade até o matrimônio, subir ao altar vestido de branco de véu e grinalda, para o orgulho da família que a entregava intacta ao seu noivo.

Usando o medo do diabo e o temor a Deus como arma de evangelização, os pregadores religiosos conseguia resultados satisfatórios, arrebanhando multidões de adeptos aos princípios morais, combatendo o profanismo causado pelo carnaval. A igreja era o meio de comunicação mais atuante na formação cultural. E muito contribuiu com a sociedade, em especial nas cidades do interior e nos sertões.

No decorrer do tempo chegou o rádio trazendo conhecimentos, colocando a população em sintonia com a sociedade moderna, mudando aos poucos os hábitos culturais, e a população gradativamente aceitando o que antes se dizia imoral. Mais tarde com a chegada da televisão muitos tabus foram quebrados até o dia que a propaganda do uso da casinha se deslanchou nos meios de comunicação e passou a ser mais importante que a virgindade. Atualmente os adolescentes se julgam no direito de fazer sexo sem nenhum compromisso nem senso de responsabilidade, julgando-a como coisa banal e ultrapassada.

Nossos antepassados sofreram sérias decepções e tiveram muitas vezes que cometer injustiças, obrigados pelas circunstancias sociais de uma cultura primitiva, há que foram criados. A sociedade não perdoava a família em cujo seio um membro cometia um ato ilícito. O rigor de um pai colocando pra fora de casa sua jovem filha que tivera a desventura de perder sua virgindade era uma exigência sociocultural arraigada na formação do chefe de família. Uma atitude muito injusta diga-se de passagem.

La pela década de cinqüenta, com meus dez anos de idade, testemunhei várias polêmicas ocorridas em nossa comunidade. Num determinado carnaval houve um trágico suicídio de uma conterrânea, que marcou a história na época.

Descendente uma família moralista e conservadora, Afonsina acalentava um sonho. De um dia participar de um desfile de carnaval. Começou dar preocupações aos pais levando pra casa recortes de uma revista ilustrada com fantasias carnavalescas. Sua mãe assim que descobriu chamou sua atenção. -Filha teu pai não deve nem em sonho perceber que você arrumou estas figuras indecentes isso é coisa do diabo. -Que mal há nisso mãe? As filhas do Teodoro são todas dançarinas, contaram-me que La na capital federal todo mundo dança e ninguém proibe. Os pais participam com os filhos dando apoio é coisa de família! –isto é sim falta de moral gente sem vergonha coisa do capeta! – Vá botar isso no fogo!

Teodoro passava uma temporada com a família sempre que possível na fazenda do irmão. E a caipirinha Afonsina logo caio de amores pelos seus, filho e filhas, meninas moças com a mesma idade que a sua. Influenciado pelas irmãs o garoto e Afonsina estavam sempre juntos se escondendo pelos matos tentando burlar a vigilância dos pais. Preocupada com a filha Sebastiana a repreendia -; filha não quero saber de tu metida com esta gente de cidade grande isso não dá bom resultado. Mas a menina era fogo e as repreensões da mãe em nada ajudaram ao contrario piorando e muito sua rebeldia. O sonho de um dia participar de um bloco de carnaval só fez crescer a partir da atitude da mãe em botar no fogo aquelas maravilhas que suas amiguinhas lhe trouxeram da capital.

Parecia que a mocinha era um caso perdido, o remédio era casá-la o mais rápido possível. Completaria quinze anos no final do ano, antes do natal e seu noivo fora escolhido, não por ela, mas pelo pai. Uma solução antes dos carnavais sonhados por ela. Com certeza esta decisão a colocaria sob as rédeas do marido, e não teria como fugir como prometera varias vezes, ao discutir sob a vigilância da mãe.

Casada a preocupação dos pais não tinha mais sentido, embora não amasse seu marido assumiu o papel de dona de casa. Veio o primeiro filho, alegria para o pai e avós, a ela nem tanto. Outros deveriam vir não fora os ensinamentos de uma velha curandera que fornecia as garrafadas, ora férteis, ora abortivas, conforme o desejo de cada cliente.

O filho já com idade escolar, surgiu à oportunidade de ouro, mudar para Pompeu, La sim, alem da escola o pai encontraria mais oferta de trabalho na construção civil. Afonsina irradiava alegria contaram-lhe que o carnaval de lá, era dos melhores no interior não superava as grandes cidades, mas não deixava a desejar comparando às cidades do interior. Ajudada por uma vizinha suas escapadas para os ensaios a princípio passou despercebida pelo marido. O filho logo notou aquela movimentação da mãe preparando uma roupa colorida, costureira de mão cheia vivia abarrotada de encomendas, coisa corriqueira para o marido que não a questionou, nem percebeu as intenções da esposa. Em fim chegou o tão sonhado dia, um baile seria realizado, a expectativa maior estava focada na terça feira gorda. Vestida a rigor aguardou o marido que costumeiramente chegava à tarde no mesmo horário. E logo veio a pergunta:

-- Que palhaçada é esta dá para explicar? – Uma fantasia de carnaval não está vendo? –Você está brincando, desde quando uma mulher de família se veste com tamanha imoralidade?- Desde criança acalento este sonho e não será você que vai me impedir! – E porque só agora você me revela este desejo e da forma mais sórdida que existe, vestida desta maneira? – Você jamais me daria permissão, assim o esperei para avisá-lo que estou indo, e que o vai ser depois você decide, amanhã estarei de volta e pronta para arcar com a decisão e a conseqüência que vier!

O filho que a tudo assistiu, com os olhos marejados abraçou o pai que pareceu perder o chão sob seus pés, enxugou o rostinho da criança e acompanhou com o olhar até que a esposa desapareceu dobrando a esquina rua.

Quarta feira, cinza e tristeza. Na casa vazia... O pai preparou sua marmita deixou o filho na escola seguindo para o trabalho.

A tarde no final do expediente em copanhia do goroto que foi ao seu encontro no trabalho,ele passou pela padaria apanhando pão e leite e dirigio a casa. Ao chegarem a porta seme-aberta o pai exclama:- tua mãe chegou flilho! Ao entrar no quarto o susto;imóvel estendida no seu leito Afonsina jazia...Na mesisinha de cabeceira um frasco de um motífero veneno e um copo vazios...Entre suas mãos entrelaçadas no peito uma folha de papael manuscrita,nela a seguinte mensagem: -filho cuide bem do teu pai ele é um homem bom,perfeito-,eu que sempre fui um caso perdido,talvez um dia ele possa me perdoará!

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Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 27/02/2012
Reeditado em 28/08/2012
Código do texto: T3523318
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