A SERENATA
Estava completamente apaixonado.
Naqueles tempos,não havia tecnologia,namoro era coisa séria
e as moças eram guardadas a sete chaves.Mesmo quando já
namoravam sempre havia alguém,da família, de olho aberto.
O camarada tinha que fazer uma graça para a moça,tinha que
marcar território.
Combinou com dois amigos , uma serenata.
Pegou emprestado uma vitrola -daquelas que tocava à pilha,
arrumou uns LPs e esperou um dia que tivesse lua clara.
Lua cheia!
Lá estavam eles embaixo do velho umbuzeiro,que ficava em frente
à casa da moça.
Respiração ofegante,coração a mil, coloca a primeira música -escolhida a dedo.
O som,embora baixo e cheio de chiados,invade a casinha, numa
ternura sem fim.
Devagarinho,e silenciosamente,a porta vai se abrindo...
Do escuro da casa para o claro do terreiro surge uma figura,
cabelos despenteados,ceroulão nos joelhos e um enorme facão
erguido numa das mãos.O pai da moça!
-Vagabundos...não têm o que fazer não!Como se atrevem a atrapalhar
o sono dos outros!...
Susto!
Correria!
Salve-se quem puder!
Pela manhã, o que se viu foi um verdadeiro bagaço:LPs,pedaços
da vitrola,alpercatas, tudo espalhado pelo terreiro.
Não sobrou pilha sobre pilha!
Foi Lindo!!!..