BETERRABA, CARNE DE PANELA E BONZO, NUNCA MAIS

Da série: Causos de Mostradanus

Em uma determinada fase da minha vida, todos têm essa tal fase que pode ser boa ou pode ser má, e por circunstâncias que eu não entendo até hoje, tive que fazer uso diariamente da tal beterraba aquele legume cor de sangue com gosto de milho verde. Almoço com beterraba, jantar com beterraba e café da manhã no dia seguinte com suco de beterraba e ao usar o vaso sanitário diariamente, eu cada vez mais me convencia de que poderia estar “naqueles dias”. Minha vida era beterraba pura e eu começava a acreditar que estava pagando todos os meus pecados e, com certeza de estar assistindo uma espécie de sessão de psicografia de uma vida passada recente em forma de tortura visual, quando as quatro primeiras sílabas se destacavam retumbantes, não sei se com o propósito macabro de desmontar os restos mortais de uma estrutura psicológica que eu ainda possuía, depois de um drástico rompimento com aquele agente satânico chamado Santo Antonio.

Que esse julgamento seja dos meus leitores (boa ou má fase) depois de conseguirem chegar ao final do texto, quando terei terminado de contar esse causo ou esse pesadelo, pois eu costumo dizer que sempre haverá “males que vêm pra bem”.

De qualquer forma eu não estava com anemia aparente e exibia na ocasião um bom porte físico, mas tive que pegar carona nessa idéia obsessiva, porque de uma forma improvisada me tornei hospede de uma hora pra outra nessa casa de horrores vermelhos e fui ficando, ficando e quando percebi arrotava o sublime doce dessa raiz nutritiva.

Sugerir um ensopado de repolho refogado no tomate (um chucrute delicioso), nem pensar, pois essa leguminosa causa papo (bócio-aumento de volume da tireóide). Quem sabe, um ensopado de ora-pró-nobis, o famoso “lobrobô” com costelinha de porco e angu. Nem pensar, carne de porco faz muito mal à saúde. Quem sabe, uma buchada com feijão branco? Nada. Fiquei apavorado. Antes de viver essa situação, eu havia saído de um constrangimento que somente os meus ouvidos testemunharam. A boa noticia é que eu tirar a minha carteira de motorista e ouvi sussurros na copa “de que eu tinha uma cara de pamonha e que com essa cara jamais conseguiria tal façanha”.(Faz muitos anos isso) Resultado, tirei minha carteira, mas nunca mais consegui comer uma pamonha com aquele apetite que me fizesse esquecer a obscenidade do ato cruel de um julgamento a revelia. Quem disse isso, morreu e nunca soube que eu sabia que ela disse. Confuso, né? Hoje eu devoro pamonhas sem ter freqüentado um divã de psicanalista, mas decididamente ainda não consegui resolver o atrofiamento que sofri usando a tal beterraba.

Portanto, não existem acontecimentos bons ou ruins, como também segundo um espírito de porco que sempre me rodeia e às vezes me norteia, também não existem certezas. Já conclui também que em muitos casos a truculência ou a contundência (rssss) pode ser, quando bem interpretados e analisados, gestos de carinho, mesmo que saiam do anonimato.

Com a truculência das palavras eu já havia me acostumado, mas com a imposição de um cardápio assim eu não consegui conviver e tratei logo de ir embora.

Se eu tenho como companhia esse espinho invisível, anônimo que chamo de espírito de porco e que me leva a essas situações, acredito também que o meu anjo bom (desculpem a redundância) também me acompanhe sempre, pois me considero um cara de sorte, como dizia minha querida mãe, “o filho primogênito que nasceu com aquilo virado pra lua”. Nem tanto, pela qualidade dos meus posts ou pelo que fui obrigado a engolir até aqui (no duplo sentido), mas pelo tempo que consegui viver absorvendo por um longo tempo, uma dose exagerada de potássio, cálcio, sódio, fósforo, zinco, ferro e manganês, sem contar o fato de que o cachorro da casa, faleceu pouco tempo depois, quem sabe, por se alimentar com aquela porcaria chamada Bonzo. Rsss.

ET . A historia do Bonzo aconteceu mais ou menos nesse mesmo período nebuloso da minha vida, quando presente numa festinha de aniversário, em um certo momento o quibe desapareceu e quando reclamei (na brincadeira) de repente eles apareceram de novo, com uma coloração avermelhada. Poderia ter sido a junção do boi ralado com a beterraba de novo, ou então simplesmente roubaram o bonzo do cachorro da casa. Rsss – Quanto à carne de panela é uma estória curta e grossa. Sugerir mudanças na trivialidade das pessoas, pode fazer transbordar ressentimentos guardados. Coma a carne de panela calado e nunca pense em sugerir, mesmo que gentilmente, um boi ralado afogado com couve picada, ou um bife acebolado ou sei lá, um bolo de carne moída batido com ovo e farinha de trigo que fica uma delicia. Nem pense nisso, pois você pode arrumar uma inimizade irreversível.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 10/02/2012
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