O Açougueiro e o Caipira
.. Deus ajuda quem cedo madruga...”
Outro dia me perguntaram qual é critério que tenho para escolher os “Causos” que vão ser publicados. Então respondi, como todo contador de “Causos” mediano, que depende do assunto do momento. Pois bem, assistindo ao Globo Rural do dia 16/01/011, vi uma reportagem sobre uma famosa lingüiça francesa fabricada em Franche Comté (Região da França na divisa com a Suíça). Pois bem lá tem uma cadeia de produção que funciona mais ou menos assim: As vacas dão leite que vai para a fábrica de queijo que descarta o soro que serve para a alimentação de suínos ( minha filha veterinária diz que não se usa mais o termo porcos), que servem para produzir carnes, usadas na fabricação de lingüiça, e que descartam dejetos usados na adubação dos pastos que produzem capim que serve na alimentação das vacas, fechando ai o ciclo. Foi então que me lembrei do “Causo” a seguir:
Meu irmão, abaixo de mim, hoje morador na capital do Estado, atende (com muito orgulho) pelo apelido de João Caipira ou simplesmente, “o Caipira”. Pois bem, na segunda metade dos anos 60 vivia com sua família no sítio. Entre muitos afazeres criava porcos para ajudar no faturamento familiar. Pequeno fornecedor de leite para a indústria de laticínios de propriedade de Alfredo Soncini, no distrito de Roseta. A maior importância não estava no leite que vendia, mas sim no soro que trazia para os porcos. Tinha soro à vontade uma vez que nem todos os produtores de leite usavam do mesmo expediente. Constantemente tinha de 8 a 10 porcos prontos para o abate, pelos açougueiros de Paraguaçu Paulista. Certa feita tinha 9 cabeças que davam de “seis arrobas prá riba”. Constantemente negociava com um dono de açougue chamado Candinho, famoso por pagar sempre “muito direitinho” e não menos famoso nos descontos que engendrava para lucrar um pouco mais. Fechado o negócio quis saber se os porcos eram tratados com soro. Mas não era o soro que faria a diferença. A quantia que cada um bebia que era o problema. Segundo o “Caipira”, sem que Candinho soubesse, cada um “só numa assentada bebia prá mais de 20 litros”. Candinho, que sabia disso, pensou: Tenho de pegar esses porcos cedo, antes do líquido “café da manhã”. Tenho que chegar o trato antes que o Candinho chegue, disse o “Caipira” para seu Anjo da Guarda que estava de plantão... Perguntou pelo prazo da entrega. O Candinho desconversou: Ah! “Quarqué hora a gente pega”!!! Vou ter que madrugar até o dia da entrega, pensou baixinho. E assim foi feito por uns três dias. Uma manhã, antes que os galos repicassem o canto, chegou o comerciante de proteínas. O “Caipira” tinha chegado primeiro, no “local do crime”. Peso feito. Pagamento também. Nossa estória terminaria ai se nosso amigo Candinho, já por volta das oito e meia, não resolvesse parar na venda do Antonio Batista para beber a pinguinha de costume. Foi quando chegou o Chico Venâncio (também caipira) que falava alto, de modo que em qualquer ponto do patrimônio todo mundo escutava, vendo que os porcos já começavam a desfazer do soro, originando embaixo da caminhonete uma pequena cachoeira, foi de pronto dizendo: “Ô CANDINHO SU OCÊ NUM FÔ IMBORA LOGO TEUS PORCO VAI VAZÁ TUDO”. (oldack/18/01/011). Tel. (018) 3362 1477.