O sorriso nasceu e o sol apareceu...
As nuvens escureceram de vez.
As árvores secaram, as pétalas caíram.
A tempestade chegou de vez, e caíram lágrimas de chuva.
Lágrimas se aprofundaram junto com meus sonhos.
A morte foi decretada, pois um homem morre quando um sonho se desfaz...
Deve ser o imutável...
Mataram o pássaro acostumado a ser livre; trancaram-no numa gaiola e afogaram-no com lágrimas.
Mesmo com o biquinho de fora, tentando explorar algum ar de alívio, não conseguiu mais explorar o que havia de livre hábito.
Como se estivesse esperando num ponto de ônibus, mas sua condução nunca passa para tu partires...
Como se batesse numa porta pedindo apenas um copo d'água e te recusassem.
Que candeias me estabeleceram um ser morto? As rosas vermelhas se desbotaram e se misturam com as lágrimas, que, com isso, tornaram-se lágrimas de sangue.
O vento soprou o seu único suspiro e levou a distância, talvez de um céu, a um porto inseguro.
Eis que o corpo esta desvelado, velado num corpo docente.
“A morte é apenas uma circunstância na qual a estância do tempo nos leva a acreditar que é o inevitável.“
Eis que clama pelas vindas de boas novas, à espera de um anjo de seis asas, à espera de um grito repentino e uma mão salvadora.
Eis que não pensa mais: o oxigênio falta em sua mente. Eis que não anda mais, pois seus pés estão vacilados.
Seu coração não pulsa mais; não sente mais as dores constantes. Talvez seja o sinal da morte, do vazio e do silêncio.
Como se o terreno estivesse pleno, mas cheio de buracos e soubesse que lá cairia.
Como andar, descalço, numa rua cheia de pedras e sem saídas.
Pueris são os seus movimentos se debatendo contra o nada.
Prosaicos são os seus delírios de peripécias insolentes.
Indolente é a sua alma.
“Alma que partiu talvez para o paraíso,
Alma que partiu numa projeção que talvez a alivie.
Talvez o que alivie não seja a vida terrestre, mas a morte do ser carnívoro.”
Eis que o céu se abriu, as nuvens se mexeram, o sol refletiu, mas sem que pudesse o queimar.
A lua era nova, dizendo a chegada de boas novas.
O céu era estrelado, como brilho de uma face.
Eis que surgiu dos céus uma multidão de anjos de seis asas, que aterrissaram sobre o falecido.
Eis que, com um pergaminho em mãos, tocavam trombetas para anunciar a chegada da vida.
Soava, então, o alívio e o socorro dos anjos.
Eis que o morto ressuscitou, as palavras de ternura tocaram a sua alma e acalmaram seu esplendor.
Eis que as palavras saíram num louvor, em que a alma desparecida começou a flutuar.
Eis que o corpo começou a introduzir-se em movimentos, a mente ressurgiu e o pensamentos retrocederam.
A boca começou a ganhar saliva; poros da pele começam a suar: era o ressurgimento das glândulas sudoríparas.
Eis que o morto abriu os olhos; a cegueira não lhe pertencia mais. A escuridão não era mais o seu lar.
Eis que uma lágrima despedaçou em seus pés.
Eis que o mar de gente se abriu e o caminho surgiu.
Seus pés não vacilaram e suas mãos não se desencontraram; seu coração começou a pulsar novamente como na primeira vez de vida.
Os sonhos, que eram tidos como mortos, começaram a ter uma blindagem diferenciada.
Os sonhos ganharam vida e, com isso, o homem também.
Os sonhos não eram mais sonhos: tornaram-se realidade, um fato na vida do ser.
Eis que a vida lhe deu um abraço, e, juntos, sorriram.
A morte tomou seu caminho, de onde não sei por bem.
Eis que os anjos choraram também; ouviam-se os barulhos de suas asas. O milagre foi feito por completo.
A vida é assim: “Quando achamos que não tem mais solução para nada, aparecem os anjos que vêm para nos dar a mão de socorro e nos libertar daquilo que nos aflige.”
O sorriso nasceu e o sol apareceu; a vida começou a ter sentido.
O que degustava e tinha gosto amargo em seu paladar, começou a ficar doce.
Não existe causa perdida para aquele que crê no Deus vivo.
Deus nunca falhou, e não será dessa vez.
Tudo posso naquele que me fortalece.
Renato F. Marques