"Juca Severino,o sonambulo que atirou sua muié aos porcos!!"
Juca Severino um típico trabalhador rural. Era meeiro, acordava antes do sol raiar, calçava as butinas de goma, pegava a marmita , colocava no embornal e ia para a roça que ficava a algumas léguas dali e já sabia que a labuta o esperava! Casado com D. Olinda, dona de casa prendada, essa tinha de dar conta das cinco (5) meninas “uma escadinha”! lavava as roupas da família no córrego, buscava água para beber em latas na cabeça, apanhava lenha para cozinhar, tratava das galinhas e dos porcos, eles tinham um mangueiro lá no fundo do quintal. Moravam em uma casinha de pau a pique coberta de capim, e o chão era barriado com bosta de vaca e a noite a simples casinha era iluminada com candeias que ficavam penduradas nos cantos das paredes. Porém, Geralda a filha mais velha sempre foi a que sofreu mais, pois tinha de ajudar o pai na lavoura , como se ela fosse filho homem, ficava até no cabo do arado! E se reclamasse apanhava de reio, como se fosse animal também! Já as outras ficavam em casa com a mãe. A vida da família corria normalmente, digo quase, porque o Sr. Juca era sonambulo! Quase sempre era só pegar no sono que já começava a peleja! Ele se levantava da cama e ia “digamos trabalhar dormindo”, ia cascar milho para tratar das galinhas, saia pro mato catando lenha, acendia o fogão, punha a rabinha na chapa para esquentar água, modi cuar café arredando as panelas de ferro e até comia carne fria de lata. Toda noite era medonha!! Ele saia a fazer coisas que deveriam ser feitas durante o dia e acordado! Coitado, parece que ele ficava "encabulado" com tanto serviço! E até dormindo queria adiantar o expediente! Então andava pela casa, amolava enxada,resmungava, procurava a vara de ferrão para apartar as vacas, enfim ninguém dormia direito,fazia tanta bagunça que acordava a mininada que assustadas caiam no choro! D. Olinda o buscava pela mão, com muito cuidado, sem acorda-lo colocando-o na cama novamente, assim tudo se aquietava. Diziam que nunca se deve acordar um sonambulo, pois senão este fica em transi, passando mal! E no outro dia, Sô Juca levantava cedo e não se lembrava de nada. Continuava a labutar. E nem a D. Olinda,nem as minina cumentava nadica de nada, não sei se por respeito ou medo dele brigá com elas ou de ele ficá pió, coitadas! Esse era meio avarento, pois, tinha a “moda feia" de levar contigo nos borsus um punhadinho de pó e um pedaço de rapadura com medo de fartar café pra mode ele bebê!
Certa noite, após vários meses sem nada de esquisito acontecer, Sr. Juca tava carmo, sem sonambular, parecia inté que tinha sarado a duença quandu, numa madrugada, quandefé, eli levantô da cama e começô a enrola ou mió imbruiá o cochãu de capim com D. Olinda dêntu! Im seguida, jogo o rolu nas costas e saiu em direção ao mangueiro que ficava no fundo do quintal. D. Olinda esperneava,xingava mas nem ansim o home acordô, Chegano lá, jogo o cochãu com sua muié imbruiada dentó do xiqueiro para os porcu comê!! Dona Olinda aos gritos e correndo da porcada, escorregando na lama e trupicano nas bostas de porcu. Pelejanu pá pulá os bambú! Dessa veiz, não teve dó do sonambulo e começou a xingar o maridu:
_ ÊTAAAAAAAAAAAAA FERRO, QUE DIACHU DE VIDA! OCÊ TÁ DOIDUU HOME? CREIO EM DEUS PADRE! TODU PUDEROZU! ME JOGANU PUS PORCU MI CUMÊ!! ÁRAAA, ONDÉ QUI JÁ SE VIU ISSU?? CÊ INDOIDÔ DIVEIS!! CURUIS IN CREDO! CÊ VIRÔ O "CAPETA?" TÁ INTÉ PARECENO SOMBRAÇÃO!!
Dona Olinda tentando se limpar e com os joelhos esfolados, sangranu, camisolão rasgadu,aos trapus e quais cás vergonha de fora, já fora do xiqueiro,continuava gritanu:
_ Dessa veiz, ocê foi longe demais!! Cansei dessa vida! Num chega essa pobreza, essa trabaiera, essa sua doença mardita de saí andanu di noite fazenu tudo cuntuá e eu ino atrais ti busca! Ou cê caça um médicu e trata de ele ti interná no sanatóri ou senão, lá im casa cê num põim os pé mais não! Mardito, avarento, cê num merece a muié que tem! Seu bosta, coisa atoa! Some da minha frente que minha paciencia cabô, cabô o restinhu que tinha!! Capeta do mei dus inferno!!
O Sr. Juca, sem dar uma palavra, cabisbaixu e inté parecenu que num tava intedenu nadica de nada, foisimbora pra dentru. Somente sacudia a cabeça! E sungava as cirolas!