O CUMPADRE QUE QUERIA "APIÁ"
- Dia cumpade!
- Dia.
- Ano novo, vida nova?
- Nada cumpade, tudo do memo jeito.
- ...
- As fia presse mundo de Deus sem dá nutícia, a muié me fartano...
- Mais ocê crama em sô?
- Conta aí as nuvidade lá da venda antão pra mudá a prosa.
- Lembra de nóis prusiá sobre aques dois bugre que num sabia dá discarga?
- Vai falá que vortaram lá pro rancho de sapé...
- Não cumpade, pareceu um subrinho dês, daques que o guverno num dexa trabaiá cum discurpa de sê de menor...
- Ês fica é aprendeno coisa ruim por aí né cumpade?
- Bebê, fumá, robá....
- Isso é qué boa iscola, hein cumpade?
- Mais antão, apareceu o tar de subrinho e invocô os bugre a comprá um carro ca própria posentadoria dês nesses impréstimo consignado...
- Mais ês num dá conta de dirigi não sô!
- Carma cumpade. Tudo já foi de causo pensado. O rapais é que fica fazeno farra co carro dos coitado.
- Sacanage hein cumpade!
- Uh! Mais dia desse o moleque num tinha cobre pa pô petróleo, chamô os bugre pra dá uma vorta de carro inté na cidade...
- Vai falá...
- Dispois de enchê o tanque cos cobre dos coitado, largô ês nas quenga e foi inchê o rabo de droga.
- Né possiver cumpade!
- Quando vortô pra pegá os tio acho ês já na istrada cramando que as muié num tinha rabo....
- Caba logo quisso cumpade, tá me dexano nervoso sô!
- Mas antão, na vorta pra roça, o muleque tava ligado e tonto e cabô bateno o carro no corrimão da ponte do Sô Raimundo e o carro fico dipindurado lá quais noite intera.
- Que pirigo cumpade! Quela ponte é artona!
- O leitero é que acho ês, inda gastô mais de hora pra juntá mais gente e dá jeito naquilo.
- Cume quês tava?
- Diz que o carro tava de cabeça pra baxo, balançano, garrado só numa das viga, o muleque e os dois bugre muntuado na frente...
- E os bugre falava o quê?
- Diz o Sô Quinzinho, que tamém foi ajudá, quando os bugre cunheceu ele cumeçô a gritá...
- Gritá o quê cumpade?
- Eu quero apiá, quero apiá, pelo amô de nosso Sinhô, eu quero apiá...
- ...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES