PALAVRA DE PESCADOR !!!
 
 
         Não sei se tô contando no lugar certo, mas, juro que é verdade! Pode perguntar por aí... Taí o pessoal que num me deixa mentir. Aconteceu uma coisa semana passada, que vocês num vão acreditar; fiquei na dúvida, se conto, se não conto – resolvi contar. Mas pra que vocês possam entendam é melhor eu começar do princípio, uma coisa que se iniciou assim pra mais de cinco anos passados, quando fui pescar no Araguaia, modéstia à parte sou bom pescador, e tô lá dentro duma canoa tentando pegar um peixe ariiisco toda vida, sô! Mas como eu tava com um relógio, o relógio era bão, mas ficava aquele barulhinho, tic-tac tic-tac tic-tac, e o tal do peixe num vinha no anzol de jeito ninhum. Tenho cá a impressão que aquilo devia de dá uns ecos que ia até a isca e ispantava o bicho. Eu cá cos meus botão pensei: "Desse jeito, num vai não". Fui até a beira do barranco e dependurei o meu relógio num galho pra pegar depois. Como Etelvina, minha esposa, tinha recomendado pra que não me atrasasse pro jantar, coloquei pra despertar às sete horas. Voltei pro meio do rio e quando é fé que não, vejo lá de longe um peixe saltando da água tentando pegar meu relógio. "Ô fio da zunha, sô!” - Remei pra lá pra num deixá o bixo pegá o relógio mas num deu tempo. Num salto mais caprichado, um boca larga abocanhou meu relógio e mal caiu n'água eu já vi outro peixão bem maior, aquele que eu tava tentando pescar, já na cola dele tentando abocanhar o ladrãozinho, pega aqui, pega ali, pega dacolá, afunda, sobe, lá pelo meio do rio vejo uma rabanada, afundam e a partir daí não vi mais nada. Lá se foi meu relógio. Sem contar a bronca de Etelvina quando cheguei atrasado pra janta em casa.
     Rapaz...! Já até tinha esquecido do ocorrido. Semana passada, tô eu lá pescando de novo, no mesmo lugar, do mesmo jeitinho. E tô ouvindo aquele barulhinho: tic-tac tic-tac tic-tac. Eu pensei: "Mas rapaz! Que baruio isquisito!" E aquilo começou a rodiar minha canoa, e eu procurando de onde vinha, até que num estalo me lembrei o acontecido naquele dia, cinco anos atrás. "Ah, rapaz... mas é?!" - Joguei o anzol, e foi escritinho na boca do bicho. A hora que o bagrão se tocou que tinha engolido o anzol, ai ele ficou valente! Puxa daqui, puxa dali... ficamos bem umas duas horas, brigando. Quando é fé o bicho parece que desistiu de lutar. Só que era grande demais e num cabia dentro da canoa, tinha pra mais de dois metros de comprimento. Pensei: "O jeito é arratá esse peixão pra beira do rio e lá eu vejo o que faço". E assim fiz.
     Chegando na beira do rio, num lugar raso, meio que numa prainha, começo a arrastar aquele peixão e como era muito pesado resolvi puxar pela linha. Comecei a puxar de frente da boca, só que o bicho tava dando uma de esperto: Ele abriu o bocão deixando escapulir o anzol, com a força que eu tava fazendo, ele deu uma rabanada e voltou pro fundo d'água. E eu fiquei ali olhando aquele peixão se afastando, lá na frente ele dá outra rabanada e afunda de vez.
     Quando eu tava ali lamentando por ter deixado aquele peixão escapulir, ouço um barulho, um zumbido forte, que eu olho, tava lá preso no anzol que tinha saído da barriga do peixe, o meu relógio, despertando. Eu, de pertinho, olho bem pra ele: “Minha nossa. São sete horas. Se eu atrasar pra janta a Etelvina me mata”.



foto: Google
Walter Peixoto
Enviado por Walter Peixoto em 25/01/2012
Reeditado em 25/01/2012
Código do texto: T3461726
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