Jacaré Baré
Jacaré Baré recebeu esse nome, porque sempre teve um jeito mole de viver.
Especialmente porque adora mesmo é ficar deitado na rede, só a se balançar. Não está nem aí com quem pintou a zebra. Tendo jaraqui e farinha do uarini prá comer, não quer nada. “Bora jogar bola, Baré? _ jacaré Olé, chamando-o prá brincar. “Caralho, vai você” _ Baré pela terceira vez recusa-se a sair da rede.
A vida tava boa. Baré diz que se ficar melhor, estraga. Quer mais é morgar na sua tipóia. Dona jacaré Zezé, sua mãe, até o parabeniza: “Barezinho, ocê tá mais que certo; lá fora não tem nada melhor, só há o que não presta”.
Tudo naquela mísera casa é marasmo. Seu Jiló Jacarezão, mal abre a boca prá falar.
Vive a pitar um cachimbo fedorento que ninguém agüenta. Assim a vida tava boa demais. Porém o Projeto Dindin veio prá acabar com a paz daquela gente simples e tranqüila. Eles iriam ser removidos do ladaçal de décadas de residência. Então, a coisa fica feia. Porém quem sofre mais com a situação é Seu Jiló Jacarezão. Ele não arreda o pé. Nem quando sua mulher e seu filho vão embora. Seu Jiló Jacarezão bate o pé. Fica sozinho, pitando seu fétido cachimbo. “Só morto saio daqui. Esse igarapé é herança dos meus véios”. Fica sem fio e sem muié, mas não arreda pé. Caçamba e caçamba a mando do governador abarrotadas de barro, soterram o local. Ele ali fica esturricado. “Não saio, prefiro morrer. Morro satisfeito e meus veios sei que também estão felizes.”
Assim no lugar do antigo igarapé, surge uma nova paisagem; toda ajardinada, com muito verde para a felicidade geral e do progresso.