TERRÍVEIS DÚVIDAS

–    Boa tarde, Xiru. Mas bah, tschê, eu não levo jeito mesmo! Na primeira vez que falei solito com uma guria, levei um tapa na cara. Isso guasca nenhum aguenta. Cara de gaúcho é para usar bigode e não para ser batida. É vergonha demais. Tenho a impressão que ela não gostou daquilo que falei. Mas, tschê, eu só queria saber! Mas esse tapa me serviu de lição. Aprendi que elas são diferentes... também na maneira de reagir. Parece que as mulheres vivem num mundo diferente que os homens. E para esconder o corpo fazem  mistério que bah! Os peões que eu conheço são simples e não têm segredo para ninguém. Se está calor e tem que trabalhar sem camisa, pois olha, o peão não tem vergonha. É claro que só montam seu pingo com a pilcha toda.
Com tudo isso cheguei à conclusão que as prendas são muito mais complicadas que os peões. Fazem tanto mistério!!! O que custava ela contar para mim que o negócio, aquele, é assim e assim. Me fazia até um ato de caridade. Pois olha tschê, eu ficava até agradecido para ela e ficava um pouco menos burro! O pai sempre diz que a gente tem que aprender todas as coisas para se orientar na vida. As coisas da escola e as coisas do mundo. Mas enquanto isso não acontece, enquanto a gente não aprende tudo, fica burro e é mais porque, parece que complica o meio de campo, quando as gurias é para ensinar alguma coisa. É complicado, dessas coisas do mundo, ninguém ensina nada para ninguém, essa que é a verdade! Elas são muito orgulhosas e são capazes até de se rirem da gente nas suas conversinhas particulares.
Sabe o que eu acho, Xiru? Que tem coisas que todos deviam saber desde que se entendem por gente! Tenho razão ou não tenho? A gente passa por cada uma!!! E tudo por não estar informado. Se os pais não tivessem essa vergonha boba de falar abertamente com os filhos sobre essas coisas, ninguém levava tapa na cara. Isso me doeu um bocado! Se eu soubesse não ficava curioso, não acha? Quem sabe até que, na minha ignorância, eu não escolhi as palavras certas para perguntar para a guria. E, se foi isso, tenho que pedir desculpara pra prenda. Acho que isso de pedir desculpa, é coisa de peão de bons sentimentos, não é mesmo, Xiru? Eu estou falando contigo porque já é um homem casado que sabe dessas coisas e podes me dar um parecer, não podes?
–      Pois olha, Tschê Guri? Posso chamar pelo apelido?
–      É, pode. Todo mundo me chama assim!
–      Obrigado. Essas coisas são muito complicadas. Tu vês que nossos pais não tinham esse costume. Eles nasceram em outra época em que a cultura (tradição) era outra. Os costumes de passar de pai para filho, não permitiam que o pai fazlasse de tudo. O que é ser piá ou menina tinha um valor muito diferente. E eu acho que não sou a pessoa indicada para te dar essas informações.
–      Mas nem tu, que é meu amigo e me conhece desde criança? –      Mas não fica triste. Tem outros jeitos de se informar. Tu conhece bem a Katty, não conhece?
–      Conheço. Quando ela vem aqui em casa tratar alguma coisa com a mamãe, ela sempre conversa comigo. Depois daquilo ela não veio mais.
–      Pois é. Arranja um jeito de ir lá pedir desculpa para ela, isso vai devolver a confiança e a amizade que ela tinha por ti e, de quebra, tu vai convidar a prenda para dançar contigo no baile que vai ter no salão da dona Carlota. Que achas disso?
–      Mas... Xiru, eu não sei dançar!
–      Melhor ainda! Tu vai falar para ela, quando tu vai pedir desculpa, que ela, pra mostrar que não ficou brava contigo, te ensine a dançar. A parte mais forte do laço vai ser a emenda!
–      Puxa vida, Xiru, tá aí uma coisa que pode dar certo. Tu sempre me deu bons conselhos e este valeu a pena. Vou fazer isso! Obrigado meu amigo.
Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 21/01/2012
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T3453143
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