CASAL SIMPÁTICO E OS EFEITOS DA PESCARIA AFRODISIACA
Dona Rita e seu João um casal de meia idade. Ela já com 43 dona de casa e ele 53 anos funileiro (vazia tachos de cobre, soldava latas de leite etc). Era um casal divertido e admirado por todos. Gostavam de fazer suã com arroz ou peixe frito e chamar os vizinhos para jantar com eles e tomarem aquela pinguinha. Levavam uma vida normal numa pacata cidade e para colorir um pouco aquele cotidiano gostavam de uma pescaria.Tinham dois filhos, uma menina de onze e um menino de nove. A Dona Rita gritava:
_Ó João dipressa pode i rancano as minhoca, que eu tô cabano de lavá os trêm do armoço e hoji do jeito que tá mormaço é capais de nóis pegá inté umas traíras! Hã i podexaá que já faço os pito de paia pra nóis pitá e tamém ispantá os burrachudo.
Seu João pegava o enxadãozinho e sumia pro fundo da quintar, lá intrais do chiqueiro pra mode rancá as minhoca e se num encontrasse as iscas em boa quantidade, era só pegar uma lata com bosta de porco pra mode fazê ceva, ai os pexe junta tudo, as veis dá inté pra pegar cá peneira.
Tralha arrumada, vara, cabacinha com as minhocas, um canivete caso precisasse, capanga onde punha uma garrafinha de guaraná caçulinha com café roiado com um pedacinho de sabugo embrulhado num pedaço de paia de milho, uns biscoitos e tamém um vidro de arcool cum jiló dento, panhado na sexta feira da paixão e rachado im cruis, pra mode passá se bicho picá. E tumbém os pito de paia pronto e a caxa de fosque. D. Rita apressava o marido:
_Simbora home, que tá um solão bão dimais!
Era só pegá o trio que travessava o campinho de bola, dispois pular a linha do trem, andá mais um cadinho e passá dibaxu da cerca de arame farpado. Nessa hora as cacunda duía, mais cuá, só de pensá nos pexinho, miorava.
Até chegar na lagoa ainda tinha que atolá um pouco, pois era uma vazante e quando passava as chuvas a água baixava e ficava um barro fininho, num tinha oto caminho! Chegano lá D. Rita já tava esbafurida. Seu vistido de jérsei chegava a ficá pregado no corpo de tanto calor, mais miorava dibaxu da sombra das sangra d’água e a água morna da lagoa, então que beleza! D. Rita tratava de arrumar uma arvinha pra pendurá a capanga cás merenda e café, e já queria iscar o anzór, jogar a linha e xaquaiá a vara insurtano as traíra, e eza vinha doidinha prateando as águas encardidas da lagoa.
Seu João esse resolveu ir para o outro canto, também afoito para começar a pescaria. Ele num gostava de pescar muito pertinho um do outro não, falava que as muié cunversa dimais e atrapaiava pegar os pexes, ora dizia que as linhas enroscavam, ou então num quiria que puzese ôiô gordo na pesca dele. Tamém tinha as caganeiras. Toda vez que o Sô João inhá pescar, seu intistino trapaiava, ele punha a curpa no café frio da garrafinha que D. Rita trazia.
_ Passadas algumas horas... D. Rita disse, ou melhor berrou:
_ÔOH João cadê ocê? Caiu no barru? Ou tá na moita fazeno viaje?? Cuidado cas urtiga!! Sê lembra a ultima veis que ocê limpô o butão cas foia de urtiga e passô treis dia cá bunda dento da bacia d’água! Exclamou D. Rita chamando pelo marido.
_Ôh João ieu vô merendá pruquê já peguei treis traíra e umas cinco piaba e tamém sô, eu tô quereno pitá! E ocê já pegô arguma coisa a num cê murdida de burrachudo?
Seu João já nervoso e sortano a vara no chão, veio e retrucou:
_Oh sá, larga de sê mintirosa! Ocê nem pesca direito. Ieu pruquê cai naquele mardito barru e dispois a vara ingastaiou na arve e a minha traíra que escapuliu, era tão grande que pesava uns treis quilo, cumeu o anzor!! Rueu a linha! credo meus braços tão inté tremeno! Pode me dá um golu de café e um pitu tumbém, que num tô cum graça não! Merda de barro!
Dona Rita morrendo de rir do João disse:
_Uai móbem, eu já tava inte pensando que ocê já lenvinha bem safadinho quereno que nois parasse a pescada pra mode fazê bubiça lá no coxo de pôr sar pras vaca, que fica D’baixo do bambuzar. Daquela outra vez Rsrs o trem tava bãao dimais sô!! Tô rrepiadinha só de lembrá. Disse ajeitando o vestido no corpo.
_Tô achano inté que to imbuchada. Credooo! Hoji ie discunfiei pruquê fiquei com nojo enjôo memo da minhoca e minhoca num me dava nojo não! Já pensô a vergonha, uma muie véia de cabelo branco grávida!? E as cumadi, os cumpade, os vizinho! Num quero nem pensá o que vão dizê! Nossus mininu já tá tudo grande! Ai nossihora do bom parto que me protege!
Seu João com as pernas bambas e acrabunhado com a conversa da mulher falou:
_ Tá ficano doida muié? Vira essa boca pra lá sô! Ocê num falô que já féis essa tal de passagi e que num ruma mínino mais! Curuis sô, credo, onde cê tirô isso? Aah, sejá lá o que Deus quiser! Só que tem um poblema, a língua do povo é ferina! Eze vai falá que invéis de nóis pegá o ruzario e rezá, nóis tá é fazeno bubiça! Amassano bombrir! Pono os bichu pá brigar! Ê fica danu discurpa “que vai é pesca”.
_D. Rita afobada e juntando as coisas continuou:
_ Trata de tumá o seu café e junta as traia e vê se dispois ocê discansa as dor no braço de tanto pelejá cá traíra grande que cumeu seu anzor!! Achei que traíra gostava era de minhoca. Essa prosa de ieu tá gravida, nois termina em casa! Vê se anda digero que já lenvem chuva e é da grossa! São Geronimo, Santa Barba já ta relampiano e truvejano! Sinão, nois vai tuma um molho e pegá um resfriado e dispois não tem jeito de nois “vim pesca de novo”!
_Anda muie que já tá pingano grosso! tá tudo nuviado e relampiano!!!