O QUE ERA PARA SER A PRIMEIRA VEZ...

O QUE ERA PRA SER A PRIMEIRA VEZ

Estava eu virgem, mas com os hormônios empurrando-me para a desvirgindade. Coisa que acontece com os guris de quinze para dezesseis anos, aqui no pampa ou em qualquer outra região. Gente adulta me garantiu que era muito bom. E eu, que também sou filho do Patrão do céu, queria experimentar se me adaptava com a coisa. Afinal, já era homem, pensava eu com meus botões da braguilha da calça. Tinha que aprender tudo o que os já viajados homens faziam.
Mas eu tinha medo. Eu nunca tinha sentido tanto medo, mesmo nos tempos de guri novo, quando meu pai me mandava encilhar aquela mula que mordia quem quer que fosse, quando lhe quereiam colocar os aperos em cima do lombo e dava coice para todos os lados. Isso para mim era muito ruim, mas na situação atual, o medo me causava uma agonia terrível. Nesse barco eu nunca tinha navegado, ou, como dizem por aqui, em cima desse animal eu nunca tinha montado. Não tinha ninguém em vista, pois, xucro como era, um piazote que nunca se tinha metido nessas coisas de sexo, nem olhava as prendas lindas que via na rua. Olhava para outro lado, com medo de profanar a honra delas. Coisas que vinham dos ensinamentos dos pais. O pai era severo com essas coisas de honra e a mãe era uma santa. Nada ensinavam e nem falavam sobre essas coisas de relacionamento do homem e da mulher. Muito menos comigo, que era considerado um guri ainda muito criança... e puro. Segundo eles, não tinha idade para saber dessas coisas, que faziam parte da vida, mas, da vida dos casados. Mas, puxa vida, continuava eu a conversar com aqueles botões, tem que ter um jeito de experimentar. E vai que eu goste da coisa!!! Seria mais um divertimento pra juntar com as proezas dos meus carrinhos de lombada, naqueles ermos que a gente só tinha boi e vaca e porco pra se tratar e largar no potreiro de manhã. Ah! Tinha também as roças para lavrar, mas, como eu era guri muito novo ainda, assim considerado pelo pai, iram os irmãos mais velhos que faziam isso.
Lá em casa só tinha homem. A única mulher era a mãe, santa mãe! Nunca tinha nem visto (quanto mais chegado perto) uma mulher com pouca roupa . Pelada então, nem se fala. Nem sabia como ela era. Igual a mim? Não podia ser! As moças tinham que ter uma coisa diferente! Mas eu não sabia como era. Quando as gurias do visinho tomavam banho no riozinho que passava na divisa das nossas terras com as dele, o pai me mandava buscar um terneiro numa roça que ficava bem longe do rio. Estudo eu não tinha. Não dava tempo! Tinha que ajudar em casa a cuidar dos bichos. Era de família católica e, para os padres, tudo era pecado. Quando o pai me pilhava perto da cerca vendo o touro cobrindo a vaca, me mandava sair dali. Dizia que “isso” era da natureza do animal. Mas, com essas aventuras de olhar os bichos fazendo “aquilo”, já dava para ter uma ideia de como acontecia.
Cada semana eu tinha que ir à cidade para vender ovos, galinhas e outros artigos que sobravam do nosso consumo. E esse dia, esses momentos fuga do rotineiro, para mim era uma glória. Via prendas, lindas uma barbaridade, mas tinha medo de falar com elas. Só olhava de longe... imaginando! Ás vezes ficava tarde até que terminasse meus “negócios” e voltava de noite fechada para casa. Naquele tempo, a gente só via luz elétrica na cidade e, então, eu me deslumbrava!
Num dia desses que eu fui vender essas coisas e já era tarde, encontrei na rua uma das filhas do visinho. Ela e as irmãs (eram três) iam a cavalo para o colégio na cidade. Ela me viu e começou a conversar comigo, por visinhos e conhecidos que éramos. Primeiro, acossado pela ingenuidade, só respondia sim e não. Mas, como ela era tagarela por demais, comecei a me largar um pouco mais. Mas eu não conhecia esse negócio de etiqueta e boas maneiras, para abordar uma mulher. Ela era mais velha e eu nunquinha tinha falado com ela longe de casa. Empolgado com a versatilidade da prenda, perguntei por pura curiosidade, como ela era.
– Como? O que tu quer saber?
– Saber como tu é, ora!
– Eu sou assim como tu me vê. Converso uma barbaridade e estudo.
– É assim, sabe, eu sou guri e tu é menina, certo?
– Sim, e daí?
– Daí que eu queria saber como é aquele negócio com o que tu mija.
... levei um tapa nas ventas que mais parecia um coice de mula... e ela foi embora.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 20/01/2012
Reeditado em 20/01/2012
Código do texto: T3451185
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