O LEITÃO DE SANTO ANTÔNIO

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Recontando Contos Populares

 

Sexta-feira, 13 de junho, comemorou-se em todo o país o dia do santo casamenteiro, padroeiro dos pobres, protetor das crianças: o popular Santo Antônio. Aqui então, nem lhe conto, pois ele é padroeiro da cidade. Quadrilha tinha até em fundo de quintal, arraial então... Eu quero aproveitar o clima, para, com sua devida licença, lhe repassar uma historinha sobre o nosso padroeiro, que li, a página dezenove, do livrinho de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, intitulado Dois Amigos e um Chato. Mas, vou logo explicando que para o texto não ficar muito longo, peguei emprestado somente à essência do conto e o reproduzi com minhas palavras (paráfrase).

Era o vigário, rosado, gordo e satisfeito; vagaroso na missa e rápido na mesa; queridíssimo dos paroquianos da cidadezinha. Não teria maiores problemas com seus fiéis, não fosse o mistério da caixinha de Santo Antônio.

Tudo começou no dia em que ele mesmo resolveu colocar, na caixinha, uma notinha de vinte reais, novinha em folha. O padre vinha reparando que seus paroquianos não contribuíam muito para a caixinha que ficava ao pé da imagem de Santo Antônio e então tratou de colocar ali a nota de vinte, na esperança de servir de chamariz.

E qual não foi, primeiramente, o espanto, depois o susto, quando no dia seguinte, ao recolher as contribuições, notar que, infelizmente, babau vinte reais. Alguém (e não fora o santo) passara a mão na caixinha antes do padre.

Aquilo era grave. Desde que fora designado para aquela paróquia nunca tivera um caso de roubo na igreja. A caixinha de Santo Antônio era a que ficava mais perto da porta e isso devia ser a causa de estar sempre vazia. O ladrão acostumara a roubá-la. Devia estar fazendo isto há muito tempo, o que explicava, então, a falta de contribuição; não era omissão de seus paroquianos. O padre não tinha noção de estar sendo roubado até o dia que resolveu incentivar os fiéis com sua notinha de vinte.

Meio recolhido no seu silêncio, o vigário caçava um jeito de avisar o ladrão de que já sabia das gatunices. Que se podia fazer? Chegou à conclusão de que a melhor maneira seria no sermão de domingo, mas não devia magoar os fiéis com a notícia de que na comunidade, havia um gatuno de igreja. Isto poderia tirar o sossego da pacata cidadezinha.

O padre fez o sinal da cruz, atravessou o átrio para dizer a missa. Na hora do sermão pigarreou e contou que Santo Antônio lhe aparecera em um sonho, para agradecer a certo cristão que deixava uma esmola gorda para os pobres e ainda limpava a caixinha, possivelmente em sinal de contrição.

Terminado o sermão ninguém notou que o verbo limpar tinha sido usado com segundas intenções, mas o padre tinha certeza da que o ladrão se mancara. Mais cedo ou mais tarde, arrependido, viria se confessar.

Certa manhã, o padre viu chegar o velho que tomava conta da estação. Era um negro forte, de cabelo grisalho, muito tranqüilo até a hora de largar o serviço, ocasião que entrava no boteco e enchia a cara. Chegou amparando uma bruta bandeja. Parou na frente do padre e explicou:

— Seu padre, eu também andei sonhando com Santo Antônio.

— Não me diga! – exclamou o padre, fingindo surpresa, mas certo de que aquele era o ladrão, com remorsos.

— Mas é verdade padre. Sonhei com o santo e soube que ele anda com vontade de comer um leitãozinho. Eu estava engordando este aqui para o meu aniversário. Mas tenho idade bastante para não comemorar mais nada.

Dito isso, descobriu a bandeja e o mais apetitoso dos leitõezinhos, assado em forno de lenha, apareceu. O padre sentiu o cheiro de seu prato preferido, mas agüentou firme e disse para o nego velho:

— Deixa a bandeja aí na sacristia que eu entrego o leitão pro santo.

O bom ladrão obedeceu. Deixou a bandeja e voltou para casa em estado de graça. Minutos depois o menino que fazia, às vezes, o papel de sacristão na igreja chegava à porta com um recado do padre:

— Seu vigário mandou dizer – falou o moleque – que Santo Antônio esta de dieta e que é pro senhô ir comer o leitãozinho com ele, logo mais.

Foi um jantar pra santo nenhum botar defeito. ®Sérgio.

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Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 18/01/2012
Reeditado em 20/08/2013
Código do texto: T3448467
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