A DAMA DE NEGRO
A dama de negro
Telma gabava-se de ser muito pratica. Falava sempre para suas colegas de trabalho: - Roupa preta é tudo de bom. Economiza sabão, pois não precisa lavar, é só colocar no cabide após o uso, deixar tomar um ar, e colocar de novo no armário. Emagrece, pois dá a impressão de afinar a silhueta. É sexy, dá um ar misterioso e ao mesmo tempo sério, e o melhor de tudo, combina com qualquer outra cor. E não se esqueçam, dura eternamente, pois só é preciso lavar umas duas vezes por ano.
Só não contava um detalhe para as pobres colegas, ela economizava ainda mais, garimpando suas belas peças nos brechós da zona sul da cidade onde morava. Na verdade não era só a conservação da roupa que importava, mas os bolsos também.
A Selma também adorava peças de roupa preta, e quando foi trabalhar no mesmo andar que a Telma, as duas fizeram uma dupla imbatível, quando elas saíam do elevador, sabia-se ao longe que uma delas estava chegando, pois abusavam no uso do mais puro e legítimo perfume francês da mesma marca cujo nome traduzido ao pé da letra, corresponde à palavra: MULHER.
Nas rodinhas de fofoca elas eram conhecidas como: A dama de negro e a bruxa do quito (em analogia ao quinto andar, onde trabalhavam), quando se aproximavam das conversas, alguém sempre dava um jeito de trocar de assunto, e todos sorriam entre os dentes, dando-lhes as boas vindas.
Não sabiam as fofoqueiras que as duas contavam tantas lorotas porque achavam um abuso ter que dar satisfações sobre o que usavam, como conservavam e outros detalhes do gênero, e a vida lhes ensinara que às vezes é melhor ser fina e educada do que dar uma resposta à altura que as pessoas merecem.