O CAIPIRA E SUA LIÇÃO DE VIDA

Quinca era um lavrador honesto e bem humorado, o sorriso estampado no rosto foi sua marca registrada. Tendo seu pai falecido prematuramente antes de o seu nascimento, ele herdou a fração que de direito era destinada ao pai. Uma gleba de terra, por ocasião do espolio após a morte do avô. Dali ele tirava com dignidade o sustento de sua família que era bem numerosa. Esposa e mais meia dúzia de filhos. Seu tio que adquirira de forma não muito licita todas as demais partes dos herdeiros; irmãos e cunhados; não se conformava com a partilha incluindo Quica que ainda estava no vente da mãe por ocasião do falecimento do pai. Agora um homem já feito, casado formando sua família. Avarento o tio tentava de todas as formas surrupiar a parte que lhe coube, querendo incorporá-la a seu patrimônio.

Mas o sobrinho sempre recusava suas propostas com seu simpático sorriso de caipira. Inconformado o tio começou as retaliações contra o sobrinho o prejudicando da forma mais mesquinha. Colocava o gado na sua roça durante a noite, contaminou a água eliminando seus pequenos animais e aves domésticas, transformou a vida do sobrinho num verdadeiro inferno. Por fim deixou que a pastagem aos derredores de a sua terrinha se transformasse numa grande macega, ateando fogo por ocasião da seca, salvou-se apenas Quinca com a família.

Ao ver seus bens transformados em cinza, sem alternativa e sem opção de sobrevivência o pobre caipira tomou o rumo de a cidade indo viver debaixo de uma ponte na área periférica. Sem recursos financeiros alimentavam de restos atirados no lixo.

Certo dia revirando o lixo, Chiquinho seu filho mais velho encontrou um saco abarrotado com um grande valor em dinheiro, quantia suficiente talvez para comprar um luxuoso edifício. Eufórico o garoto correu a dar noticia ao pai. Mas, com o mesmo sorriso de sempre ele disse ao filho: - isconde bem iscundidim êssaco mode isperá cudono vai parecê! –Pai achado nerrobado, nóis tamo napió vamo é fartar tirano omenu um mucado, ta nahora de nois tirá a barriga da miséra! – Nadisso fio, escobreru nedagente não, tem isperá purinquanto nois nunvai tirá nadica de nada-, e acho bão cê mi bedecê! –Ta bão pai; afinar se ieu num tivesse topado quesse saco nois tava do memo jeito né memo pai?

Alguns dias após Quinca e os filhos estavam a revirar lixo quando estacionou um carrão importado ao seu lado, desceu um casal muito bem vestido esnobando elegância. – Bom dia senhor! Sorrindo ele retribuiu a saudação, logo a mulher o abordou; - o senhor trabalha com reciclagem? –Ieu nasinhora catamo ristim de fruitas e algum trem de cumê mode num morrê de fome, nóis semus novo no pedaço veio da roça mode num morrê prulá. - Mai e ocêis quessa granfinage toda qui tanfazeno peças bandas?

Olha parece incrível e até besteira de nossa parte, estamos procurando pistas de uma fortuna que perdemos. Meu marido vendeu uma fazenda. Você sabe como andam as coisas muna cidade grande os assaltos são constantes, então por medida de segurança colocamos o saco com o dinheiro num tambor de lixo, mas esquecemos de avisar a empregada e ela o colocou na rua, recolheram o lixo e lá se foi nossa fortuna!

Uai dona oceis hoje manheceu cus dois pé direito padiante -, mode qui o Chico esse meu mulequi qui oceis taveno aqui, achô o tar saco chiim cus cobre doceis ta bem gardadim dibaxo da ponte donde nois ta morano, inté cu Chico quiria gastá um mucadim do cobre, mai ieu num dexei mode qui num é nosso!

Não acredito você nesta miséria continuam catando lixo e guardando tanto dinheiro? – Uai dona nois sumu pobre mai temo carati sumu gente honesto o trem num é nosso. Uai o aiêiu chora seu dono nunca uviu dizê issunão? Oceis pode i ino nafrente La pa ponte guricamemo nois tachegano mode intregá oceis a dinherama doceis!

- Vocês vão é conosco de carro!- Dijeitu ninhum dona nois nessa mulambada intra nesse carro quessa chiqueza toda vamo de apé memu! – Absolutamente entrem no carro!

Seguiu para a ponte, La chegando receberam a fortuna intacta. Levaram a família. Doaram-lhe uma casa no centro da cidade deram - lhes um banho de loja levaram ao supermercado fizeram um grande suprimento. Providenciaram emprego pra o homem e estudo aos filhos.

O empresário ao tomar conhecimento da história de Quinca, ofereceu pagar-lhe um advogado para mover uma ação contra o tio, mas este recusou. – Fico muito gardicido mai num quero não vô é rezá prele todia mode Deus abençuá ele pucasu do bem quele feiz cunois, se num fosse ele bota fogo queimano nosso trenhera, nois num tinha vindu achá seus cobre e tava lá criano meus fiu anarfabeto. Dugiitim cocêis ajudoô nois ele ajudô tamém quando meteu fogo na nossa casa. E ocêis tamem deve de ficá deveno brigação prele se num contece a tragédia cu nois oceis nunca mais ia vê esse montão de dinheiro qui nois achô. Num tem um ditado qui Deus iscrevi certo pur linhas torta. Foi o qui conteceu pa miorá tem primero qui piorá!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 12/01/2012
Reeditado em 12/01/2012
Código do texto: T3436400
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