As histórias e estórias do sargento fofoqueiro
Numa floresta bonita e bem cuidada de uma distante cidade, existia um sargento feio e matusquela. Ele ficava lá, na entrada da floresta, esperando os turistas para logo mandar-lhes fofocas. Para ele, era normal. Segunda-feira passava a senhora dos pães, com todo o estoque, que não conseguiu vender. Logo o sargento via a primeira pessoa e disparava:
- Você viu? A senhora dos pães não vendeu nenhum mísero pãozinho nesta segunda - A pessoa disfarçava, mas no fundo sabia que aquele sargente era um fofoqueiro de primeira.
Terça-feira, ele logo via a mulher dos dois maridos, bígama, a coitada, e logo ele ia disparando, feito uma alarme:
- Olha só, pessoal, a mulher bígama voltou! Eu devia prendê-la, não acham? - Ignorante esse sargento.
Chegava a quarta-feira, dia da apresentação do coro do pequeno bairro de música da cidade. Passava os músicos cantando, perto da floresta, o sargento permanecia, esperando uma gafe para logo sair correndo contar a todos. Atrás logo passava as crianças, vestidas de anjos, em cima de uma espécie de carro alegórico. Ele ficava parado, olhando bem nos olhos das crianças, parece que ele queria que elas caíssem. E nada! Então, ele esperou o coro de viúvas passarem lá atrás, passavam, passavam... e nada! Desapontado com tanta coisa dando certo, ele esperou a passeata acabar, e o povo passar. Ia passando um por um e ele ia parando, e dessa vez, sem outra solução, ele começara a inventar estórias. Fofocas mentirosas, dessa vez:
- Dona Carmélia, você viu, a filha da senhora tá saindo com o açougueiro da esquina. É melhor a senhora se preocupar, ele é um brutamontes - Corria dona Carmélia assustada, em busca da filha, que não estava com o açougueiro coisa nenhuma.
Passava mais uma ‘vítima’, e ele logo ia parando:
- O senhor não viu? É! A princesa Kate me deu um autógrafo, aqui na floresta mesmo. Me deu até uma pitoquinha. Nossa, você perdeu - e a pessoa se rasgava de inveja, ainda mais por ser um homem. A rotina do sargento fofoqueiro acabava por um dia. No outro, logo de manhã, ele vinha logo para a entrada da floresta, com o cérebro cheio de mentiras inventadas. Ficava lá... Esperando a próxima pessoa. Entrava um turista, quando ele o para e dispara. Mas dispara uma mentira que o puseria numa enrascada:
- Essa a senhora vai cair pra trás. Sabe aquele castelo que tem ali do lado? O rei, rei Emírades apanhou plena poltrona real - essa notícia deixava a pessoa boquiaberta e ajudava o sargento cara-de-pau a fazer mais amigos.
Depois de uns minutos, caía na boca do Rei Emírades, a mentira contada pelo sargento. Na mesma hora, o rei se levanta da poltrona furioso:
- Tragam esse homem aqui, agora!!!!
Depois de um tempo, o rei vira os serviçais arrastando o homem pelas golas da camisa até o tapete, em direção ao rei:
- Parem! Não arrastem o homem! - Dizia aos escudeiros - Vamos lá. Diga, por que inventara que eu entrei numa luta corporal aqui em meu nobre Reino?
- Não, por favor, não me mate - Desesperado - Eu inventei porque queria fazer amizade com as pessoas que visitavam a floresta. Eu não fiz por mal.
- Ah, não fez? E por que usou meu nome em vão? Eu sou Rei!
- Mas não é Deus! Eu posso usar seu nome.
- Mas não pode inventar estórias sobre mim. Vou puni-lo.
- Por favor, nobre Emírades, não faça isso. Eu tenho 4 filhos pra criar - e o sargento mentia de novo dizendo que tinha quatro filhos.
- Ah, tem, é? E quais os nomes deles, senhor...
- Ambrósio, é meu nome. Eu sou sagento. Os meus filhos não têm nome ainda.
- Não tem nome? Sei... - Desconfiado, ele continua - ... para puni-lo, vou querer uma missão, para que você recupere a confiança do pessoal do castelo. Você irá ficar 20 dias no castelo. Plantando, regando, colhendo, servindo, e de bico fechado. Sem dar uma palavra com sequer as plantas. Ouviu?!
Por mais chateado que o sargento esteja, ele tinha de aceitar. Começou a correr o tempo e o sargento, em crise de ‘abstinência’ de mentira, começa a conversar com as plantas:
- E aí, plantinhas? Vou contar só para vocês. Hi! Hi! O rei Emírades tem bafo... - e começava a rir sozinho, apenas consigo e as plantas... mas pelo menos dessa vez o sargento tinha contado uma verdade.
E assim que os vinte dias iam passando, o sargento ia desabafando com as plantas: era uma mentira aqui, outra verdade ali... Assim ia indo... Os 20 passaram e o sargento voltava para seu trabalho, na entrada da floresta. E bom, de vez enquando, ele dispara uma mentirinha; mas sempre discretamente... E podemos dizer que o sargento Ambrósio viveu feliz e fofoqueiro para sempre, até o último