Quando vieram da roça, foram morar numa rua afastada do centro da cidade, onde o aluguel era mais barato. Para estudar, a pequena Lurdinha precisava andar bastante a pé, pois, a escola ficava do outro lado da cidade. A mãe sempre lhe recomendava:
—Lurdinha, minha fia, vai pela rua do armazém do Sô Joaquim... É mais longe, mais ieu num quero ocê passano na rua da zona.
—Quê qui é zona, mãe? Mode qui ieu num posso passá lá? É argum bicho qui pega gente?
—Larga mão de sê ispicula minina e trata de obedecê sua mãe, si ieu tô falano procê num passá, ocê num passa, sinão vai levar uma sova daquelas!
Lurdinha obedecia, mas a curiosidade aumentava a cada dia. A palavra zona não saía de sua memória, já tinha imaginado mil coisas. Pensava que talvez que na tal rua tivesse um bicho, uma loja de brinquedos ou até mesmo um circo.
Um dia, não resistindo a tentação; resolveu dar uma espiada...Era de tardezinha, ela voltava da escola.Olhando de longe parecia uma rua normal, a única diferença é que era mais movimentada que as outras, havia som de músicas em alto volume na maioria das residências.
Lurdinha pensou consigo mesma:
—”Uai, ieu vô passá nessa rua hoje, além de encurtar o caminho de casa, posso ir iscutano as modas bonita qui tá tocano nas casa.” Assim fez!
Chegou em casa mais cedo, a mãe tinha visitas. Eram umas comadres que tinham vindo da roça e estavam na cozinha tomando café e conversando. Dona Lia estranhou a filha em casa aquela hora.
—Lurdinha, minha fia,comprimenta a dona Cida, a dona Liontina e fala bença da madrinha, ela vei ti vê...—Uai, fia, a sua escolinha cabô iantes da hora hoje? Quê qui hôvi?
Após cumprimentar as visitas e pedir a benção da madrinha a menina respondeu a pergunta da mãe:
—Mãe do céu, a sinhora picisa vê! Ieu hoje mudei o caminho, vô contá pa sinhora...Ieu passei na rua da zona...
As comadres arregalaram os olhos enquanto a mãe aturdida não conseguiu fazer a Lurdinha parar de contar:
—Lá num tem pirigo ninhum não, tem um punhado de moça bunita nas porta das casa, tudo iscutano moda caipira, os vistido das moça é tudo curtin e brioso, as boca vermeia, os sapato de sarto. As moça inté me dero umas bala...Amanhã ieu levo a sinhora junto cumigo lá pa vê...
As visitas começando a cochichar horrorizadas e a menina continuava falando pelos cotovelos, a mãe sem alternativa:
—Lurdinha ieu te avisei pa num passá lá naquela rua, ieu vô contá tudo pro seu pai, ele vai te botar de castigo um mêis intêro:
—Não mãe! O pai num vai fica brabo não sinhora, vô falá prele i passiá lá tamém, modi qui ieu vi inté os marido da dona Cida, da dona Liontina e o padrin Antõe entrano numa das casa, ês devi di tê ido iscuta as moda de viola que tem lá, né memo?
—Lurdinha, minha fia, vai pela rua do armazém do Sô Joaquim... É mais longe, mais ieu num quero ocê passano na rua da zona.
—Quê qui é zona, mãe? Mode qui ieu num posso passá lá? É argum bicho qui pega gente?
—Larga mão de sê ispicula minina e trata de obedecê sua mãe, si ieu tô falano procê num passá, ocê num passa, sinão vai levar uma sova daquelas!
Lurdinha obedecia, mas a curiosidade aumentava a cada dia. A palavra zona não saía de sua memória, já tinha imaginado mil coisas. Pensava que talvez que na tal rua tivesse um bicho, uma loja de brinquedos ou até mesmo um circo.
Um dia, não resistindo a tentação; resolveu dar uma espiada...Era de tardezinha, ela voltava da escola.Olhando de longe parecia uma rua normal, a única diferença é que era mais movimentada que as outras, havia som de músicas em alto volume na maioria das residências.
Lurdinha pensou consigo mesma:
—”Uai, ieu vô passá nessa rua hoje, além de encurtar o caminho de casa, posso ir iscutano as modas bonita qui tá tocano nas casa.” Assim fez!
Chegou em casa mais cedo, a mãe tinha visitas. Eram umas comadres que tinham vindo da roça e estavam na cozinha tomando café e conversando. Dona Lia estranhou a filha em casa aquela hora.
—Lurdinha, minha fia,comprimenta a dona Cida, a dona Liontina e fala bença da madrinha, ela vei ti vê...—Uai, fia, a sua escolinha cabô iantes da hora hoje? Quê qui hôvi?
Após cumprimentar as visitas e pedir a benção da madrinha a menina respondeu a pergunta da mãe:
—Mãe do céu, a sinhora picisa vê! Ieu hoje mudei o caminho, vô contá pa sinhora...Ieu passei na rua da zona...
As comadres arregalaram os olhos enquanto a mãe aturdida não conseguiu fazer a Lurdinha parar de contar:
—Lá num tem pirigo ninhum não, tem um punhado de moça bunita nas porta das casa, tudo iscutano moda caipira, os vistido das moça é tudo curtin e brioso, as boca vermeia, os sapato de sarto. As moça inté me dero umas bala...Amanhã ieu levo a sinhora junto cumigo lá pa vê...
As visitas começando a cochichar horrorizadas e a menina continuava falando pelos cotovelos, a mãe sem alternativa:
—Lurdinha ieu te avisei pa num passá lá naquela rua, ieu vô contá tudo pro seu pai, ele vai te botar de castigo um mêis intêro:
—Não mãe! O pai num vai fica brabo não sinhora, vô falá prele i passiá lá tamém, modi qui ieu vi inté os marido da dona Cida, da dona Liontina e o padrin Antõe entrano numa das casa, ês devi di tê ido iscuta as moda de viola que tem lá, né memo?
Lurdinha é uma amiga, me autorizou publicar com a condição de não citar a cidade e nem o nome das comadres. O fato aconteceu a mais de trinta anos e resultou numa confusão danada. Ela não gosta nem de lembrar.
Obrigada Lurdinha, um abraço!
Estão descobrindo que sou a Maria Mineira e sempre aparece alguém com uma história para me contar. Isso me deixa muito feliz.