Orestes Seresta

Hoje em dia se usa a expressão “marido de aluguel” para o que faz de um tudo em casa. Será que abrange o que Orestes faz?

Compra e troca lâmpadas, desentope pias, conserta o fogão, estanca os vazamentos, põe as telhas quando a chuva forte some com elas e a casa alaga, limpa as caixas d ´água, verifica a fiação, resolve os problemas de quando os ânimos de uma família de artistas esquentam.

Monta o teclado novo da dona da casa e ainda tem o suporte na hora e como doação, é chamado a opinar sobre a produção fotográfica e poética, arruma os calheiros, pinta paredes e beirais, vem orientar o serralheiro com as grades das janelas, consegue o melhor, corre a cidade pelo preço de forros de PVC e tem os colocadores de sua confiança, conserta a cerca elétrica quando dá problemas de eletricidade ou amolecimento, põe massinha nos vidros, vira modelo fotográfico em ensaios de penas coloridas, é também musico.

Tudo isso num triz, antes da hora, não cobra pelas atividades artisticas e o resto faz por um preço que a gente pode pagar, não quebra.

Conhecemos Orestes papai ainda era vivo, ele que se foi há dezessete anos.

Como somos os dois do signo de Sagitário, mesmo decanato, sempre trocamos nossas informações procurando entender e explicar um ao outro, geralmente nas agonias. Ele, que é negro, fica branco, branco mesmo, de tanto sofrimento. Então já sei que meu serviço é reconduzi-lo à negritude.

Nunca tive segundas intenções com Orestes, embora ele seja lindíssimo. Só não sei o que me deu outro dia: peguei-o pela mão, levei-o para a sala e pedi-o em casamento. A coisa foi tão estranha, que meus olhos envesgaram quando fiz isso. Achei que não fossem mais voltar ao normal. Fiquei com medo.

Tenho um amigo chamado Belmiro, que quando conto certas coisas para ele, diz que um dia tudo será racional e vai ficar completamente controlado. Tenho vontade de perguntar: “ – Quer dizer então, que um dia eu serei completamente infeliz?”