O "Nego Véio", a Vaca e o Padre
“... a verdade dói...”
Minha Mãe, (Vó Natalina, Preta ou simplesmente Nhá) analfabeta, muito mais por teimosia do que por qualquer outra desculpa, é quem contava este “Causo”, para deleite de filhos, netos e demais interessados. Segundo ela o fato se passou em S. Joaquim da Serra Negra-MG, (hoje não existe mais) região de Alfenas e Areado, de onde vieram seus antepassados. Contava ela que o padre local, Alemão de nascença, mas Mineiro por paixão. Amava seus fiéis e por eles fazia qualquer sacrifício. Mas como bom Mineiro era “munheca e interesseiro”. Seu nome: JONATHAN HANFLING (me parece) que os paroquianos carinhosamente chamavam de Padre Jonas. Certa feita um Negro Velho de nome Alcebíades, estava “passando com água pro peito” sem dinheiro prá dar de comer aos nove negrinhos de sua prole. E veio a idéia de abater uma vaca do Padre, pois ele cuidava das coisas do Céu e lá ninguém precisa de gado. E assim foi feito. A carne salgada e posta a secar escondida num ranchinho, nos fundos do rancho mestre, prá que ninguém começasse a fazer irrespondíveis perguntas. O Padre ficou encabulado e precisava descobrir o autor da indébita apropriação. Bolou então uma campanha para comemoração do dia de algum Santo que fosse da devoção de todos. Além da missa teria uma comunhão coletiva. Mas antes precisaria ter uma confissão em massa. Entrincheirado no confissionário, certamente descobriria o autor de tão reprovável façanha. Segredo de confissionário é coisa séria e lá todo mundo se sente seguro. Ninguém deixa de falar a verdade. Demorou mas Alcebíades confessou e expôs como argumento o furto famélico. “Padre Jonas” elogiou o feito, mas disse que o ato exemplar precisava ser passado aos demais irmãos, como lição. Que num espaço, no momento do Sermão de Domingo, ele relataria o feito aos demais paroquianos. Assim o Padre contaria com as inúmeras testemunhas que precisava para receber a vaca furtada. E assim foi feito. Igreja cheia e eis que chega o momento “fatal”. Depois de um longo e entusiasmado Sermão, desferiu o último golpe. “ Meus filhos! Quero neste momento dar a palavra a este Negro Velho que é detentor de muita sabedoria. Tudo que ele disser é a mais pura e absoluta verdade”. Alcebíades, segurando o desfiado e roto chapéu da palha sobre o peito, limpou a garganta e mandou ver em alto e bom som: “SÔ VIGÁRIO MANDA DIZÊ QUI TUDA AS ZUCRIANÇA DESSA PAROQUE QUI TIVÉ U ZÓIO AZU É FIO DELE!!!” A pequena capela, numa zoeira, quase veio abaixo. Mas o mais interessante é que nenhuma paroquiana presente foi conferir a cor dos olhos do próprio filho e sim a cor dos olhos dos filhos das outras... Oldack/31/05/011. Tel. 018 3362 1477.