Transformação.

Na eternidade, na qual habitará aquele que crê,

Dissiparam-se, numa noite pouco envolvente, o sofrimento com a agonia de uma carne esponjosa e entristecida.

Eis o que aconteceu: Morreu o homem, nascendo um novo homem. Um homem mais emblemático, corajoso e de uma adesão absoluta ao espiritualismo.

Eis que este homem se converteu aos dias tristes em dias de esperança.

Curvou-se em seu rigorismo na eternidade na qual habitará aquele que crê.

Suas mesas eram fartas de fé; em sua cama, dormia a pureza dos anjos e, em seu coração, a bondade do senhor.

Era um homem mal visto pelos olhos mundanos, mas agradava aos olhos de seu senhor.

Não era fanático, tinha suas limitações, só que o amor de seu coração sobressaía sobre suas imperfeições.

Sua crença era o que o estimulava ao caminho de onde mal sabia por incerto, mas acreditava que existiria o certo.

Julgava-se pelos seus maus atos, mas se humilhava por bons atos.

Sua vontade era a de apenas ter o que oferecer, não ter apenas para alimentar só seu ego.

Mas sua maior herança e desejo eram poder ter alguém que olhasse este amor, além do seu senhor.

Seu sonho era poder preencher os seus dias solitários na Terra e admirar alguém que pudesse corresponder a esta vastidão de riqueza.

Mas deitou-se ao pé da cama e começou a rogar ao pai, e disse: “Pai, assim me conceda, mas se for a sua vontade.”

Eis, que sentiu um vento passar pela janela e arrepiar seus ombros...

Apareceu, perante seus olhos surpresos e condensados, aquela imagem angelical,

De semblante e profundidade esculturais, cuja claridade, por um instante indizível, roubou-lhe a visão dos olhos. Com a visão exclusiva da alma, liberto e clarividente, sentiu a disforme onde de luz afagar-lhe o coração, dizendo-lhe: “Quando despertardes de vossos sonhos inconcebíveis, vereis que a maior beleza não é vossa: é do reino eterno daqueles que creem. Crede, pois, que, em verdade, vosso amor será real apenas quando defrontardes a verossimilhança do amor, que é aquele que escolhe; apenas quando encarardes que não estais só onde houver o verbo dos bons pensamentos; apenas quando sentirdes que os mandamentos da paz e do aprazer forem um só em vosso coração pueril. Porquanto, não reclamais o que não é vosso por direito; contentai vossas contendas àquilo que vos fala ao fundo do espírito.”

Calou-se a voz, mas a instância luminosa perseverou à sua fronte, como que esperasse resposta; como se esta fosse de fato necessária. O novo homem, ouvindo os ecos em seu coração, respondeu: “Qual a parte que me cabe por hora, Senhor?” e obteve: “Vejo, ao vosso redor, muitíssimas maçãs, como aquela a quem chamais argentina: na parte exterior, é grande, vistosa, atraente; mas de que valor dispõe? Quando cortardes a maçã ao meio, vereis que, por dentro, já se encontra pútrida, entregue às larvas sem pudor. Dispondes, portanto, de duas escolhas: podeis ser aquele que, como a maçã, com nada se preocupa em preencher seu interior, ou podeis ser aquele que, como os que dispõem de sapiência e boa vontade, libertam-se as amarras do falso saber e da falsa moral, que culmina nas larvas. Porquanto, repito, contentai vosso coração àquilo que obtivestes por mérito, e buscai àquilo que falta à vossa paz de espírito. Não vos esqueçais do que aprendestes e não negueis o que vos conforta o verdadeiro espírito. Guiai vosso caminho com a palavra bem-aventurada e sede feliz, pelo amor de Deus.” O novo homem se calou e fitou aquele sábio anjo pela última vez.

Renato F Marques
Enviado por Renato F Marques em 21/12/2011
Código do texto: T3399474
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