O VERDADEIRO ESPIRITO DO NATAL
Filho de camponês Dolfinho viveu no campo até completar seus quinze anos. Foi levado para a cidade pelo padrinho um pequeno comerciante de origem rural. Muito comunicativo o garoto sobressai nos estudos e na arte comercial. Trabalhando com o padrinho durante o dia e estudando a noite, ele destacou de forma satisfatória em ambas as atividades.
Mais tarde o padrinho que não teve filhos o colocou como sócio na sua pequena empresa comercial. Ao se aposentar vendeu sua parte ao afilhado. Em pouco tempo ele dominou o comércio da pequena cidade se destacando como o mais bem sucedido empresário do município. Casou-se com uma jovem de família nobre e teve quatro filhos que lhe deram oito netos.
Dolfinho nunca esqueceu sua origem humilde, seu cordão umbilical esteve sempre ligado às suas raízes no campo. Comprou o pequeno sitio dos pais, levou-os para a cidade, dando lhes conforto e uma vida digna. E ao seu irmão que era o único, proporcionou boas condições de vida também, dando-lhe oportunidades de trabalho, gerenciando suas empresas.
O sitio doou-o para o Tonico seu amigo de infancia, colega da escolinha da roça com quem dividiu seu sonho de criança correndo como dois vitelos no vigor da puberdade pelos bosques e campos da fazenda onde o colega morava e avizinhava ao pequeno sitio do pai cuja divisa era o riacho de águas cristalinas e volumosas, que para os garotos rolavam numa ânsia de mar. uma paisaigem com arvores centenárias brumadas pelas garças brancas que impressionavam pela beleza ilustrando o cenário.
Agora já idoso com mais de oito décadas de vida vivendo de recordações. Marcado pelo espírito natalino de sua infancia. Com a ocupação no trabalho, não havia tempo disponível para visitar o amigo já viúvo, que era cuidado por um neto em sua saudosa e antiga moradia. O ancião jamais esqueceu o carinho da mãe na celebração do natal naquela pobre cabana em que viveu. Tinha verdadeiro carinho por aquela recordação, um teipe gravado na mente. Bem simples, sem o requinte das ceias preparadas pela adorável esposa, mas na lembrança, a simplicidade das ceias preparadas pela mãe era constante. Um filme que não apagava.
Seu neto mais novo que levava seu nome adorava o avô e suas estórias. Sabia detalhadamente como era aquela ceia preparada com tanto carinho pela bisavó, descrita nas palavras do avô. - Uma arvore de natal colecionado por uma galhada seca de jabuticabeira coberta por plumas de algodão cardado. Caprichosamente enfeitada com bolinhas de frutos do juazeiro, verdes e amarelos dando um colorido especial. Presentes não havia, mas a ceia, esta, era farta com muitas frutas de épocas, manga, goiaba, uva, laranja, pequi, a tradicional batata doce assada no borralho, a broa de milho, preparada sob uma tampa de brasa incandescente, acompanhadas pelo famoso chá, os frangos caipiras recheados, um pernilzinho assado, torresmo e pururucas com aquele tempero de mãe, um bule de café preto sempre aquecido no fogão a lenha. Tudo isso com aquele carinho que a só a mãe tem a receita.
Ao pé da arvore a pequena gruta improvisada. Em cujo interior uma mine manjedoura forrada de palha e cercada de animaizinhos esculpidos pela mãe do amigo Tonico com argila branca, aguardando o galo que anunciava com seu cantar da meia noite, a chegada do menino Jesus, igualmente esculpido com a mesma argila, pela bondosa vizinha, que atravessava o riacho com a família para confraternizarem juntos o sublime nascimento de Jesus.
Era um natal diferente, mas com a mesma simplicidade escolhida por Jesus que preferiu nascer num estábulo cercado pelos pastores de ovelhas, do que surgir entre os nobres na fidalguia aristocrática.
Desabituado daquela histórica simplicidade a cada ano o Natal de Dolfinho torturava mais seu coração dilacerado pela saudade.
Adolfo Junior seu adorado neto estava sempre ao seu lado tentando amenizar aquela doce recordação da infancia que o martirizava tanto.
Chegou mais um Natal, a família como sempre preparava mais uma grande comemoração. Adolfo percebeu que o avô desta vez estava mais tristonho do que o normal. O neto parecia ler o pensamento do avô. Preparou-lhe uma surpresa. Na hora da tão esperada da comemoração a família estava reunida, alvoroçada a população fervilhava carregada de presentes nas compras de ultima hora. Adolfo Neto se desculpou, pois não iria participar da festa, ele e o avô fariam uma viagem; - que viagem? Indagou o velho Dolfinho! – Vamos levar alguns presentes a uma família pobre e ver como eles passam o Natal. Ouve protestos-, mas Dolfinho e o neto seguiram na direção da cabana onde há vários anos o velho não visitava. Há convite do neto sem se quer comentar a respeito na viagem, seguiram rumo ao sitio. Quando perceberam estavam chegando, à velha cabana, conservava a mesma característica de outrora quando criança. Recomendado pelo neto chegou devagarzinho sem serem percebidos. Ouviram uma musiqueta de natal suave cantada por uma mãe e filha vinda de dentro da casa. A tradicional noite feliz como nos velhos tempos. Dolfinho voltou no tempo, e começou a recordar aquele Natal de antigamente nos mínimos detalhes, seus pais, seu irmão, os adoráveis vizinhos e tudo como passaram a mais de sessenta anos. Adolfo Junior o convidou para bater á porta. E ele dando alguns passos a frente obedeceu; a porta se abriu e lá está aquele cenário idêntico ao teipe que ele mantinha arquivado na mente. Ao vê-los com as mãos cheias de presentes a garotinha correu ao encontro de Dolfinho: - O senhor é o Papai Noel? – Não filhinha eu sou ajudante dele-, Papai Noel é o seu vovô Tonico meu velho amigo!- Eeeeu?... Papai Noel é seu neto que nos preparou tudo isso! – E assim os dois velhos mostraram aos netos o verdadeiro espírito do Natal!