A COMILONA
A COMILONA
Na antiga terra natal ela tinha sido um sucesso. Ganhara várias vezes em sua mocidade o concurso: “A maior comedora de tigelas de arroz”. No Brasil, ela adquiriu outros hábitos, mas sua paixão excessiva pela comida aumentou ainda mais. Alguns diziam ser esse o segredo de sua longevidade. Aos cento e tantos anos, parecia à mesma jovem de outrora, sorrindo sempre, lúcida, ligeira nas respostas, vistas aguçadas, ouvidos que captavam como sondas, os sussurros de amor da bisneta no quarto ao lado do seu.
Certo sábado ela foi a um churrasco, e disparou a comer. Carne, linguiça, muito arroz, e mais arroz. Lá pelas duas da tarde, sentiu-se tonta, e queixou-se de dor de cabeça. A nora ficou preocupada e resolveu levá-la ao hospital. A velha queria mesmo era ir para casa, tomar um bom chá, e descansar, como fazia das outras vezes. No caminho para o hospital a nora explicava que seria melhor medir a pressão arterial, e verificar se estava tudo bem. A velha não gostou. Em sua longa vida, esta história de hospital ela conhecia muito bem. Seus quatro filhos que já tinham ido embora, todos foram para o hospital. Ela preferia o sossego de sua casa e de suas ervas medicinais o que aprendera ainda no Japão.
A médica verificou a pressão e ficou assustada. Receitou uma medicação injetável para abaixar a pressão arterial. A velha caiu ali mesmo durinha da silva, enquanto intimamente a nora comemorava: - Até que enfim, tirei este traste do meu caminho, pelo menos agora vou tirar o umbigo da frente do fogão. Sogra não é parente, e esta estava custando muito a dar o fora.