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—Bão dia, cumpadi Bastião!
—Dia, cumpadi Arfedro,ocê hoje, acordô cas galinha,uai. O quê qui te traiz aqui in casa tão cedim?
—Premero mi conta cumé qui vai a famia? A cumadi e os minino tão passano bem?
—Grazadeus tá tudo cumo Deus manda, bamu apiá e intrá pa dentro,lá na cuzinha a muié cabô de cuá um café e tá assano uns joão-deitado pa mode nóis tirá o jijum.
—A demora é pôca cumpadi, ieu tava memo é picisano duma ajuda sua. Oia qui ieu já tô arriano cum as carga, intrei num mato sem cachorro...
—Disimbucha cumpadi, qui cara de boi ervado é essa? — O quê qui tá ti contrariano
—Ah, cumpadi Bastião...As furmiga tão cabano co meu miaral, cas laranjêra, cortaro inté a horta de côvi da muié. Ieu já fui na cidade, comprei um furmicida, isparramei, mais foi memo qui saí do mato e entrar na capuêra...Aí, o cumpadi Zefirino mi contô qui ocê deu fim nas furmiga daqui, vim vê qui veneno qui cê usô.
—Antão cê vei sabê cumé qui ieu cabei cas furmiga da minha roça?
—Uai, nóis semo qui nem se fosse irmão, si o cumpadi pudé e quisé mi contá, ieu fico agradicido...
—Oia, cumpadi, amigo é pressas coisa, num tem segredo ninhum não...As furmiga qui tinha nas minhas pranta e no terrêro tava pió qui piriquito na roça, aí, eu mais a muié arresorvemo pegá as furmiga no pulo, caçano és de noitão. Ieu falei prela: —Gitrude vai frevê um carderão d’água quente ... Ela freveu e inda levô a lanterna, quando nóis avistava um buraco de furmiga, a Gitrude vinha im riba alumiano e ieu tacava água pelano lá dento.
—Uai, cumpad,i e fizero só isso?
—Ocê inda acha pôco? Passemo muita noite im claro, eu mais a muié pinchano água quente den' dos furmiguêro.
—Cabô ca furmigada das suas terra tudo assim?
—Bão...Pa li sê franco, cabá de tudo, ieu acho que num cabô não, mais agora as bichinha tão de oréia im pé duns tempo pra cá...
—Mi ixprica isso cumpadi!
—Oia, onti memo quando ieu mais a muié vortava lá da cidade no jipão véio, tava di noitão já, nóis fumo chegano e quando é fé, foi a conta de abrí a portêra, os faroli do carro batero no zói da formigada qui tava na estrada, intão, ês pensaro qui fosse a Gitrude ca lanterna travêis...Cumpadi du céu...Foi um tar de furmiga saí disimbestada pa fugi do rumo, achano qu’eu já envinha cá água freveno...


Quem contava esta história era o senhor Fernando Nascimento lá de Juiz de Fora, a Rosaura filha dele me disse que se alguém duvidasse dos fatos, ele ficava brabo demais da conta.


Dicionário mineirês:

João deitado:é uma iguaria muito boa aqui da nossa região, cujos ingredientes principais são: mandioca ralada, queijo canastra e ovos, enrola em folha de bananeira e assa no forno a lenha.

Acordar com as galinhas: levantar cedinho.

Arriar com as cargas: Desanimar, desistir de alguma coisa.

Estar no mato sem cachorro: Não saber o que fazer.

Estar de oréia em pé: estar atento.

Sair do mato e entrar na capuêra: é que nem trocar seis por meia dúzia.

Igual piriquito na roça: expressão que siguifica quantidade exagerada de alguma coisa.

Disimbestada: Correndo demais.

Tirá o jijum: Tomar café da manhã.

Pinchano: Jogando.

Obrigada ao amigo Dermeval Franco pelas várias expressões mineiras que me enviou por e-mail.


Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 08/12/2011
Reeditado em 20/01/2013
Código do texto: T3378512
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